Diálogos da Fé

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O Brasil, o islã e o terrorismo

Há uma tentativa, como em outras partes do mundo, de associar os muçulmanos a todo e qualquer ato terrorista

O atirador Oliveira, criado em uma família disfuncional, não era muçulmano
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Em 7 de abril de 2011, uma escola no bairro do Realengo, no Rio de Janeiro, foi invadida e 12 alunos acabaram mortos. Os discursos e as roupas do assassino, Wellington Menezes de Oliveira, eram chocantes, como se pode assistir no vídeo que ele gravou no próprio celular.

Oliveira possuía uma vestimenta parecida àquelas das milícias da Al-Qaeda, com a sua roupa branca, barba grande e turbante na cabeça e, segundo suas declarações no vídeo, seu maior desejo era “atacar o Cristo Redentor com um avião.”

Ao que remete a ideia de “atacar o Cristo Redentor com um avião”?

Lembra-nos o que aconteceu exatamente 10 anos antes, em 11 de setembro de 2001, data do ataque terrorista das milícias da Al-Qaeda ao complexo comercial World Trade Center, em Nova York.

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Oliveira, que matou 12 alunos de ensino médio, também morreu, mas antes deixou o vídeo gravado.

Algumas semanas antes do ataque à escola carioca, havia sido publicada uma reportagem em uma revista com o título “As milícias de al-Qaeda no Brasil”. A mente do povo brasileiro estava pronta para considerar este um “ataque terrorista islâmico” após ouvir as palavras do assassino naquele vídeo.

Não foi assim, felizmente. Os intelectuais brasileiros abordaram o assunto atenciosamente, assim como a mídia e as forças de segurança investigaram de forma muito abrangente. No fim das contas, houve contato com a irmã de Oliveira e o caso foi esclarecido.

Conforme o relato da irmã, ela e o irmão faziam parte de uma família disfuncional. O irmão, relatou, nunca havia se convertido ao islã e a família inteira professava a fé evangélica.

A realidade havia sido revelada. Não se entendeu, porém, o motivo de Oliveira se vestir daquela forma. Por que um não-muçulmano faria uma coisa assim?

O que aconteceria se a mídia, os intelectuais e as forças de segurança não procurassem esclarecer o caso de forma abrangente? E se eles julgassem o ocorrido apenas com base nas imagens?

A vida se tornaria um desastre para os muçulmanos que vivem no Brasil. Assim como foi para aqueles que apareceram nas fotos na notícia intitulada “As milícias de Al-Qaeda estão no Brasil.”

Em 2014, eu encontrei um daqueles que apareceram na foto. Apesar dos três anos passados, ele ainda não se sentia em paz, os negócios estavam em declínio e ele não tinha coragem para interagir com os outros.

O caso de Oliveira foi esclarecido. Uma questão ficou, no entanto, pendente: por que ele deixou um vídeo no qual aparecia com aquela roupa e barba e expressava o desejo de atacar ao Cristo Redentor?

Relembre um dos vídeos do atirador Wellington de Oliveira:

Uma barba leva semanas para crescer. Isto significa que Oliveira se preparou durante um bom tempo e escolheu um alvo, o Cristo Redentor, que deixaria o povo brasileiro revoltado. Aliás, ele “arquitetou” um plano no qual usaria um avião, em clara referência aos ataques de 11 de setembro, para criar uma reação global.

É claro que não desejo estender o assunto à área de relações internacionais, lembrando-me das relações entre o Brasil e Irã em torno das armas nucleares, nem sou adepto de teorias da conspiração. Apenas tento chamar a atenção para a abordagem do povo brasileiro em relação ao islã e ao terrorismo de uma forma diferente.

Obviamente muitos terroristas são de origem muçulmana e costumam apresentar orgulhosamente seus atos.

Mas o que o islã diz a respeito desse comportamento? Vamos tratar disso na próxima coluna.

Tradução: Atilla Kus. Revisão: Mustafa Goktepe

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