Diálogos da Fé

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No Brasil, temos pluralidade, mas não pluralismo na política

Com a disseminação das redes sociais e a padronização das páginas com apenas o que queremos ver, estamos cada vez mais próximos de um exclusivismo político

No Brasil, temos pluralidade, mas não pluralismo na política
No Brasil, temos pluralidade, mas não pluralismo na política
Imagem: iStock
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O pluralismo é um conceito que aparece primeiramente no âmbito da filosofia na antiga Grécia. Ele significa a coexistência de diferentes ideias filosóficas em um ambiente igualitário. Mais tarde, transferimos o conceito para a relação entre as religiões também.

Antes, os teólogos católicos chegaram a estudar a categoria como uma forma com que a Igreja Católica via as outras denominações cristãs e as religiões não-cristãs. Nesse sentido, o pluralismo, além de coexistência, significa a validade salvífica de todas as religiões sem ter que alguém aderir à Igreja Católica para ser salvo na vida pós-morte. 

Peter Berger é um sociólogo que dedicou boa parte de sua carreira ao conceito, sobretudo os últimos anos de sua vida. Outrora um pensador que aderiu à teoria do declínio da religião na decorrência do processo de secularização no livro O Dossel Sagrado, em Os múltiplos altares da modernidade Berger revisita esses conceitos e admite que estamos em tempos tão religiosos quanto a antiguidade, ou ainda mais.

Segundo o sociólogo austro-americano, a América Latina foi um dos motivos para ele chegar a essa conclusão, pois é uma região composta por uma pluralidade religiosa vastíssima e, ao mesmo tempo, tendente à modernidade. 

Muitos de nós, porém, entendemos de pluralismo religioso apenas a diversidade religiosa. A concepção é equívoca quando se analisa o significado semântico do conceito. Há uma diferença abismal entre o pluralismo religioso e a pluralidade religiosa. E é isso que vou discutir neste texto para aplicarmos os conceitos também no campo político.

A pluralidade é uma realidade em que se vive. De certa forma, podemos igualar a pluralidade à diversidade. Exemplo: temos uma diversidade enorme de cores, porém, certas pessoas têm as suas cores preferidas e usam-nas em suas roupas, casas e objetos do dia a dia. Isso é o que chamamos de pluralidade: a coexistência sem igualdade. Já o pluralismo é diferente.

Em uma ampla gama de gostos musicais, há pessoas como eu que ouvem músicas de qualquer gênero. Tanto faz se a música é do gênero x ou y, o importante é que a sonoridade agrade. A pessoa ouve sem dar privilégios ou argumentar a superioridade de um gênero musical sobre os outros e segue a vida. Isso é o que Berger, em Os múltiplos altares da modernidade, chama de pluralismo. A convivência respeitosa, igualitária e não-violenta de diferentes. É o que hoje em dia acontece entre as diferentes instituições religiosas e deveria acontecer entre os diferentes partidos políticos. 

Atualmente, vivemos uma polarização política no Brasil. Quanto mais próximas as eleições, maior se torna a polarização que vivemos. A concorrência entre os políticos de esquerda e direita tem se tornado cada vez mais discurso de ódio e disseminação de falsas notícias por parte deles. O pior de tudo é a ressonância que isso tem nas bases eleitorais, pois as pessoas são levadas cada vez mais a ouvir apenas àqueles da sua bolha e negligenciar as ideias de quem é de uma visão política diferente. Resumidamente, no Brasil temos uma pluralidade enorme de partidos políticos, mas não temos um pluralismo político

A condição de considerar uma situação como pluralista é o fato de convivência: sentar, conversar, comer e até dormir juntos (conceituação trazida por Berger). Com a disseminação das redes sociais e a padronização das páginas iniciais com apenas o que queremos ver, estamos cada vez mais próximos de um exclusivismo político e longe do pluralismo que nos poderia propiciar melhores questionamentos e cobranças que os verdadeiros cidadãos de bem devem fazer aos políticos eleitos a cargos públicos. O contrário disso é fanatismo e fundamentalismo que podem nos levar até a crer que viraremos jacarés se tomarmos vacina da Covid-19.

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