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Marcha de Arbaeen, a maior peregrinação religiosa do mundo

Todos os anos, milhões de pessoas peregrinam até Karbala para participar e sentir a força e determinação de luta por justiça

Os fiéis seguem a pé em marcha desde Najaf a Karbala, rumo ao mausoléu do Imam Hussain
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Segundo informes, este ano a peregrinação anual do Arbaeen reuniu 18 milhões de peregrinos à cidade iraquiana de Karbala, no quadragésimo dia de luto após o martírio do Imam Hussein, filho do Imam Ali e neto do profeta Mohammad, quando Hussain e seus 72 companheiros morreram na batalha desigual de Karbala, no cerco criado pelo califa Yazid, em 680 d.C.

Os shiitas homenageiam o Imam Hussain e seus companheiros de martírio peregrinando e marchando até a cidade de Karbala, onde ele foi assassinado. Não apenas muçulmanos shiitas peregrinam a Karbala nesta época, mas também sunitas e muitos cristãos e pessoas de outras crenças.

Estes dias de peregrinação rumo à cidade de Karbala são chamados de Arbaeen e são uma tradição de fé. Representam a coragem e o desapego daqueles que deixaram tudo para seguir em um caravana para cumprir uma missão de luta contra a opressão e deformação da fé.

Os familiares do Imam Hussain que sobreviveram a Karbala, como seu filho, o imam Sayyad, e a irmã do Imam Hussain, Zainab, foram feitos prisioneiros e por onde eram levados discursavam para a multidão palavras contra a corrupção e contra a sangrenta ganância do califado que assassinou o Imam Hussain. Estes discursos foram se tornando posteriormente repetidos e públicos e se tornaram o “caldo de cultura” ou estopim para que o povo de Kufa iniciasse um movimento que terminou pondo fim ao governo dos omiadas.

O Imam Sayyad em seu discurso dizia: “Eu sou o filho daquele inocente que foi decapitado no Rio de Eufrates”.

Isso irritou muito o governador de Kufa, Obaidullah ibn Ziad, e ele ameaçou o Imam Sayyad e também a Zainab de morte. Então, o Imam lhe disse: “Você nos ameaça de morte sem saber que para nós o martírio é sinônimo de dignidade”.

E o Imam Sayyad disse: “Oh povo! Ouçam-me, eu sou o filho de Hussain, a quem desrespeitam e saquearam tudo e capturaram sua família…”

Homens, mulheres, velhos e crianças marcham no sentido de querer ver um mundo livre da injustiça e tirania

Zainab foi levada até a corte de Yazid e lá ela discursou contra Yazid e citou uma frase do Alcorão da surata, A Família de Imran, 178, que diz: “Não pensem os incrédulos que o fato de que lhe prolonguemos a vida seja para eles um bem-estar para suas almas. Lhes concedemos este prazo para que aumentem seus delitos para que tenham então um castigo degradante”.

Todos os anos milhões de pessoas peregrinam até Karbala para participar e sentir a força e determinação de luta por justiça que ecoa até os dias de hoje.

Seguem a pé em marcha desde Najaf a Karbala, rumo ao mausoléu do Imam Hussain e pelo caminho recebem a tradicional solidariedade do povo iraquiano que se desdobra em receber os peregrinos, alimentando-os, dando-lhes abrigo e até mesmo lavando seus pés, tradição da marcha que é considerada a maior peregrinação religiosa do mundo.

Chama a unidade dos que querem ver um mundo livre da injustiça e tirania, em que marcham homens, mulheres, velhos e crianças e fala de uma história que embora tenha ocorrido há mais de 14 séculos ainda está cheia de uma vitalidade legítima.

Onde haja um grupo mesmo que pequeno de pessoas que sejam objeto de perseguição de opressores, e que se dediquem a lutar contra eles, de alguma forma se repetem lições do martírio daquela caravana de pessoas que morreram em Karbala.

Esta peregrinação de fiéis que recordam enlutados a seu mártir é uma marcha da verdade contra a mentira, da liberdade conta a opressão, da justiça contra a tirania.

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