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Jornalistas evangélicos atuam para reformar a informação

Coletivo se propõe a acompanhar, diariamente, mídias de notícias cristãs e pronunciamentos e declarações de políticos e autoridades cristãs

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31 de Outubro, Dia da Reforma Protestante. Esse dia ficou conhecido como aquele em que, há 502 anos, o monge alemão Martin Luther [Martinho Lutero] teria pregado suas 95 teses na porta da igreja do castelo da cidade alemã de Wittenberg. Elas representavam uma tomada de posição contra o que Lutero considerava práticas abusivas da sua própria igreja, a Católica Romana, como a venda de indulgências (uma forma de perdão dos pecados), e posições doutrinárias que desviavam dos valores primeiros da fé cristã.

Martinho Lutero não foi o único. Antes dele e durante o seu tempo, houve muitos outros europeus, homens e mulheres, que se notabilizaram como “protestantes”, aqueles que traziam a dimensão contestatória à fé cristã, própria do cristianismo, num chamado ao retorno às origens (perdidas) do ser cristão. Do século XVI para cá, a Reforma marcou a história, tanto da Europa quanto dos demais continentes, por meio de muitas igrejas e movimentos. Estes grupos se espalharam pelo mundo, marcados por aspectos críticos (como a cumplicidade do protestantismo com o capitalismo e também com o imperialismo das ocupações coloniais).

Entretanto, a história também destaca a contribuição de protestantes (também chamados evangélicos em nosso continente) em ações pela justiça social e os direitos humanos como os movimentos de promoção da paz durante guerras. Também contra o racismo, como as lutas pelos direitos civis, com o pastor batista Martin Luther King, e contra o apartheid na África do Sul, lideradas pelo metodista Nelson Mandela e pelo bispo anglicano Desmond Tutu, entre outras causas. E ainda nas frentes por democracia e em oposição a regimes de exceção, como os protestantes no Brasil, no Chile, no Uruguai, na Argentina, na Oceania.

E aqui chegamos a um ponto crucial desta memória: lembrar a Reforma Protestante deve ser oportunidade para a busca de novas reformas, não só para evangélicos, mas também para cristãos de um modo geral e até mesmo para quem não professa uma religião. Um dos lemas dos reformadores do século XVI era “Igreja reformada sempre se reformando”. Eis aí um chamado à vocação de protestar, contestar o que vai contra os princípios de fé e os valores coerentes com o Evangelho de Jesus de Nazaré.

É com esta motivação que a organização Paz e Esperança, preocupada com a intensa propagação de conteúdos caracterizados como desinformação (mentiras, material enganoso, impreciso e inconclusivo) em espaços de mídias religiosas, tomou a iniciativa de articular jornalistas evangélicos para o desenvolvimento de uma ação específica. O grupo se reuniu e criou o Coletivo Bereia, que lançará nesta quinta-feira, Dia da Reforma Protestante, o site Bereia, dedicado à checagem de notícias e produção de conteúdo com foco em religião.

O nome Bereia é simbólico para os evangélicos. Faz referência a uma cidade grega, localizada na região da Macedônia, citada no livro da Bíblia dos Atos dos Apóstolos, no Novo Testamento. O texto registra um elogio aos judeus de Bereia, que participavam das reuniões promovidas por cristãos, não apenas por sua abertura para ouvir os novos ensinamentos. Os bereanos foram reconhecidos porque, eles mesmos, examinavam as Escrituras, diariamente, para verificar se o que o apóstolo Paulo e seus companheiros diziam estava correto.

O coletivo afirma ter consciência de que são muitas as várias iniciativas de agências, sites e coletivos que oferecem serviços diante da realidade tão desafiadora da propagação intensa de desinformação. No entanto, o Bereia deseja oferecer uma especialidade ainda não desenvolvida por outro grupo: a checagem de notícias veiculadas nos espaços de mídias religiosas, que têm o público cristão como alvo, e a verificação dos pronunciamentos dos políticos religiosos que estão tão em evidência no cenário político hoje.

A equipe do Bereia, formada por jornalistas e estudantes de comunicação, se propõe a acompanhar, diariamente, mídias de notícias cristãs e pronunciamentos e declarações de políticos e autoridades cristãs de expressão nacional, veiculados pelas mídias noticiosas e pelas mídias sociais. Será verificado se os conteúdos propagados são informativos (verdadeiros) ou desinformativos (imprecisos, enganosos, inconclusivos ou falsos).

O grupo de jornalistas evangélicos também está atento ao alerta de Martinho Lutero: “Somos por natureza propensos a acreditar em mentiras, em vez de verdades. Uma mentira é como uma bola de neve; quanto mais roda, maior se torna” (extraído de Conversas à mesa [Table Talk], entre 1531 e 1544). Por isso, atua para reformar a informação que circula nos espaços cristãos para haver fidelidade à verdade no enfrentamento da mentira e do engano.

Com isto, o Coletivo Bereia responde ao chamado feito pelo reformador tcheco Jan Hus que, um século antes de Lutero (provavelmente em 1411) conclamava: “Portanto, cristãos fiéis: busquem a verdade, ouçam a verdade, aprendam a verdade, amem a verdade, falem a verdade, adiram à verdade e defendam a verdade até a morte” (“Vyklad Viry” [Interpretação da Fé] da coleção Opera Omnia [Obra completa] de Jan Huss).

Bereia é apoiado pelas organizações: Agência Latino Americana e Caribenha de Comunicação (ALC); Associação Católica de Comunicação – Brasil (SIGNIS); Associação Mundial para a Comunicação Cristã – América Latina (WACC-AL, na sigla em inglês); Grupo de Pesquisa Comunicação e Religião da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (GP Comunicação e Religião – Intercom); e Paz e Esperança Brasil.

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