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Jesus esteve ao lado dos pobres, desvalidos e enxotados desde o seu nascimento

Os verdadeiros cristãos devem seguir a Jesus de Nazaré mantendo em seus corações o desejo de servir e não de ser servido

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Fazendo uma leitura sobre a essência do Cristianismo iremos nos confrontar com verdades inquestionáveis no que se refere, sobremaneira, à prática de uma vida simples: amar, esperançar, partilhar, perdoar, acreditar (ter fé), ter compaixão e ser humilde. Em relação ao acúmulo de riquezas materiais, Ele nos dizia: “Não ajuntem para vocês riquezas na terra, onde traça e ferrugem corroem e onde ladrões arrombam e roubam (…) Porque onde está o seu tesouro, aí também está o seu coração” (Mt 6,19; 21). Com estas palavras, Jesus Cristo nos alertava sobre a importância de se saber onde se encontra o coração, a sede das decisões humanas. Duas questões nos surgem diante desta reflexão: nosso coração está focado nos valores propostos pela sociedade consumista, capitalista e excludente, ou é sensível à justiça de Deus, que Ele quer ver reinando na terra? Lamentavelmente, sem a necessidade de examinar a fundo as palavras do Cristo proferidas nestes versículos, podemos inferir que em tempos atuais, a prática de determinados grupos autointitulados cristãos tem se desvirtuado imensamente dos ensinamentos deixados por Jesus no que se refere ao acúmulo de bens materiais e a exploração dos fiéis.

Desde o seu nascimento, o Rei dos reis nos dá sinais de sua missão: nasceu em meio a animais e foi posto para repousar em um cocho onde os animais comiam. Os primeiros a contemplá-lo em sua humildade e dar testemunho da chegada do Salvador foram os pobres e rudes pastores de Belém.

Deus, em sua sabedoria, nos dava o primeiro sinal de com quem seu filho andaria e ao lado de quem se colocaria. O Filho do Homem, desde o seu nascimento, estaria com os pobres, com os desvalidos, com os enxotados por uma sociedade dividida em classes. Uma sociedade na qual a classe dominante impunha pesados fardos sobre camponeses, pescadores, pastores, artesãos e outras categorias de trabalhadores. Altos impostos eram cobrados pelas autoridades governantes, enquanto que contribuições financeiras eram exigidas pelos líderes religiosos que deturpavam a palavra de Deus para se satisfazerem em sua ganância e cobiça. Enquanto o povo pobre sofria com a miséria, os ricos se deleitavam com suas riquezas. Estava instaurada a divisão entre grandes e pequenos, ricos e pobres, exploradores e explorados.

A seção do Evangelho de João capítulos 1, 19 a 12, 50, chamada de “Livro dos Sinais” por estar organizada em torno dos sete gestos realizados por Jesus, nos indicam quem ele é e qual o sentido de sua missão. Todas as atividades e proclamações feitas diretamente por Jesus ou sobre ele, estão de algum modo ligadas a estes sinais. Recomendamos a todos que façam uma leitura desta seção.

Não basta, nos ensina Jesus, dizer-lhe ‘Senhor, Senhor’ para entrar no Reino dos Céus. E para aqueles que se julgarem merecedores do Reino e tentarem argumentar dizendo: “Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos, expulsamos demônios e fizemos tantos milagres?” Jesus responderá: “Nunca conheci vocês. Afastem-se de mim, vocês que praticam a maldade” (Mt 7, 21-23).

O verdadeiro “milagre” deve acontecer no interior de cada ser humano, homens e mulheres que verdadeiramente desejam fazer e viver a vontade do Pai que está no Céus. E sobre como fazer a vontade do Pai, Cristo nos ensina a praticidade do amor: “Porque tive fome e vocês me deram de comer, tive sede e me deram de beber, era estrangeiro e me acolheram, estava nu e me vestiram, estava doente e me visitaram, estava na cadeia e vieram me ver.” E ao ser questionado sobre quando lhe teriam feito estas coisas, Jesus responde: “Todas as vezes que vocês fizeram isso a um desses meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25, 35-40).

Estamos diante da compaixão, do chamado a viver intensamente o maior mandamento: “Ame o Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda sua alma, com toda sua mente, com toda sua força. Ame o seu próximo como a si mesmo”. (Mc 12, 29-34). Eis o cerne da lei de Deus e do cristianismo.

Na realidade atual de um mundo pós-moderno, vivemos uma inversão de valores tamanha que até mesmo os princípios básicos do Cristianismo foram postos de lado por determinados grupos que se declaram “cristãos”, e o fazem tendo plena consciência de seus atos. São aqueles que se tornaram adeptos e escravos de “Mamon”, termo extraído da Bíblia, utilizado para descrever riqueza material ou cobiça e que na maioria das vezes – mas não necessariamente -, é personificado como a divindade “deus dinheiro”.

Não são poucos os pseudos líderes religiosos que tem pregado e praticado uma Teologia identificada como sendo da prosperidade que traz em sua essência o crescimento financeiro, contrariando diretamente a um dos pilares do Cristianismo a nós ensinado por Jesus de Nazaré: “Busquem primeiro o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas ficarão garantidas para vocês” (Mt 6,33). Jesus está nos ensinando sobre a luta pela sobrevivência, que não deve e não pode ser travada com determinados valores estabelecidos na sociedade que propõem o consumismo e a acumulação como base para a felicidade e o bem viver.

Os defensores desta teologia atribuem o sucesso financeiro a uma fé que pressupõe “negociar com Deus”, transformando-o em um “banco de investimentos” e utilizam desavergonhadamente seu nome para alcançarem seus objetivos. Recentemente, um desses líderes religiosos classificou como “investimento” as “doações” a serem feitas para sua igreja dizendo descaradamente: “quanto mais você investir, maior retorno terás”. E o pior é que tais “líderes” religiosos servem-se de conceitos fundamentalistas e de um falso moralismo para acusarem e desprezarem àqueles que não os ouvem ou deixam de “obedecer” aos seus ensinamentos, afirmando despudoradamente: “o que ensinamos nos é revelado por Deus”. A estes, Jesus chamou de “sepulcros caiados”, pois discriminavam abertamente a todos que não eram judeus, aos leprosos, as prostitutas e os publicanos.

Em João 2, 13-16, temos a narrativa da expulsão dos vendedores que negociavam no Templo promovida por Jesus. Por qual motivo Ele agiu daquela maneira? A ação severa de Jesus em sua primeira visita ao Templo de Jerusalém mostra sua consciência de como as atividades religiosas podem ser corrompidas pelos interesses econômicos e políticos do grupo dominante. Os comerciantes de animais que seriam oferecidos em sacrifício cobravam preços altíssimos bem acima dos valores cobrados fora do templo. Ora, podemos questionar, se era assim, por que os judeus não compravam os animais fora do templo? Ocorre que os comerciantes em acordo com os sacerdotes obrigavam os judeus a comprarem somente os animais vendidos no saguão do templo. Se não fizessem dessa maneira, o sacrifício não era aceito.

Em nossos dias, guardadas as devidas proporções, temos assistido às práticas adotadas por alguns segmentos identificados como religiosos que vão muito além daquelas praticadas em Jerusalém na época de Jesus. Os animais para o sacrifício obrigatoriamente adquiridos no templo deram lugar a objetos que vão desde um sabonete para purificação espiritual a martelos da justiça.

Não fosse isso o bastante, temos ainda líderes “religiosos” capazes de manipular seus fiéis a ponto de garantir a governantes e autoridades inescrupulosas total apoio aos seus desmandos. A que preço o fazem, deixamos para suas conclusões.

Os verdadeiros cristãos devem seguir a Jesus de Nazaré mantendo em seus corações o desejo de servir e não de ser servido, como ele mesmo nos revelou ao falar de sua missão (Mc 10, 45).

Na carta de Tiago 1,27 lemos: “A religião pura e sem mancha diante de Deus, nosso Pai, consiste em socorrer os órfãos e viúvas em seu sofrimento e não se deixar corromper pelo mundo”.

Estamos diante da única verdadeira religião desejada por Deus: a solidariedade para com os pobres associada ao compromisso de não se deixar corromper pelas estruturas e esquemas injustos da sociedade.

Que tenhamos força, coragem e esperança para viver o que nos ensinou Jesus de Nazaré.

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