Início de tempos sagrados, caridade e solidariedade no calendário islâmico

Comunidade entra num período de três meses considerados sagrados que culminam com o Ramadan

Apoie Siga-nos no

Dia 25 de fevereiro foi o início do período de três meses que são muito venerados no calendário islâmico. Estes três meses são os meses de Rajab, Sha’ban e Ramadan que numericamente são o 7º, 8º e 9º meses do calendário islâmico. Embora haja muitas afirmações atribuídas ao profeta Muhammad a respeito destes três meses, muitos estudiosos afirmam que estes relatos são fracos quando são submetidos aos critérios da disciplina chamada Hadice(*). Porém, dentre estas afirmações, a frase “Ó Deus! Abençoe-nos nos meses de Rajab e Sha’ban, nos faça alcançar o mês de Ramadan” é a que comumente se expressa muito neste período considerado sagrado. As informações sobre o mês de Ramadan já foram citadas aqui neste blog pela professora Patrícia Soares quando foi o seu início no ano passado (não citarei muitos detalhes sobre ele neste momento). O que eu pretendo hoje é transmitir aquilo que, na minha própria ideia, faz com que estes três meses tenham tal sacralidade e importância imensas.

Em primeiro lugar, estes três meses concebem datas que são importantes para a comunidade islâmica. Neles há a noite mais importante para a tradição, que é a Noite de Decreto, ou como se cita no Alcorão, Lailat al-Qadr. Segundo a tradição islâmica, a primeira revelação corânica chegou ao profeta Muhammad nesta noite enquanto ele estava em um lugar afastado de Meca rezando e refletindo. Apesar de não ser tão clara a data exata, os muçulmanos costumam celebrar a 27ª noite do mês de Ramadan como a memória dos primeiros versículos do Alcorão que chegaram ao profeta. O profeta Muhammad ordena aproveitar todas as noites de Ramadan como se fossem Lailat al-Qadr rezando e tentando agradar a Deus.

Em segundo lugar, há a 15ª noite do mês de Sha’ban. É a noite que divide o mês em dois e nesta noite procura-se perdão e graça de Deus por meio da reza e oração. Esta noite é chamada de Lailat al-Baraat, isto é, a Noite da Libertação. A libertação se dá caso o crente aproveite esta noite com a reza, súplica e dedicação a Deus. Desta maneira, ele será livre de qualquer pecado e culpa (**). Já a 27ª noite do mês de Rajab é a noite em que o profeta Muhammad foi levado a Jerusalém para o encontro com os profetas e mensageiros que antes dele foram enviados à humanidade (o versículo 1 da surata 17 do Alcorão menciona este acontecimento) e de lá foi assunto aos céus. O retorno dele para o mundo é com as boas-novas de perdão e a oração diária.

Comumente é sugerido que estas datas sejam aproveitadas com mais dedicação à oração e ao jejum. Principalmente jejuar nestas datas é recomendado pelo profeta Muhammad. Mas por que jejum?

O jejum é o ato da abstenção de comida e bebida a fim de uma educação espiritual, pois conter a alma diante dos desejos carnais é possível por meio do jejum e desta maneira pode-se evoluir espiritualmente. Desta maneira é possível abster-se dos atos pecaminosos que podem levar o ser humano à decadência. Mas além deste sentido metafísico, o jejum faz com que compreendamos aqueles que não têm as mesmas condições que nós temos na vida cotidiana. O jejum ganha o seu sentido quando compreendemos a situação do outro e solidarizamo-nos com ele. Ele ganha o seu sentido real quando nos convoca a praticar o bem e a ajudar os outros. O jejum se faz verdadeiro quando o homem se torna uma criatura caridosa e benfeitora.


*Hadice é o termo usado para indicar os ditos, atos e afirmações do profeta Muhammad

**Hadice do profeta Muhammad citado em: Ibn. Mája, Iqama, 191

 

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.