Diálogos da Fé

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Escola Sem Partido: a Bancada da Bíblia a serviço das trevas

Grave interferência política na educação, o projeto avança no Congresso sob o patrocínio dos deputados religiosos

Escola Sem Partido: a Bancada da Bíblia a serviço das trevas
Escola Sem Partido: a Bancada da Bíblia a serviço das trevas
Eles não sabem o que fazem? Ou sabem?
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Eles vêm montados em seus “cavalos” de impetuosidade e leviandade avançando contra a diversidade e realizando seu projeto de destruição. Trazem a peste do fanatismo religioso que não reconhece nada além de sua própria crença, a guerra insana contra os que definem como inimigos da moral religiosa, com fome de opressão, submissão e desigualdade, e causando a morte tanto simbólica quanto física de quem está além de seu reconhecimento.

São eles os paladinos da moral conservadora que promovem retrocessos e uma devastação social de proporções apocalípticas na deficiente democracia brasileira. A moralidade que reivindicam a ser cumprida pela manutenção da sociedade e de seus valores é mais uma arma para fazer valer seus interesses. 

As armaduras que utilizam não são revestidas de ouro, mas valem muito mais do que ele. Sejam ternos ou batinas, simbolizam os privilégios e influências exercidas em nome da fé. Esta influência é uma moeda valiosa de barganha por mais poder econômico e político. Haveria escudo mais eficiente para se abrigar do que a confiança inspirada pela fé religiosa?

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Em torno da religião se constituiu um imaginário que a associa com o “bom”, o “justo” e o “verdadeiro”. É claro que este é um privilégio de algumas religiões que historicamente se constituíram como dominantes. Em nosso caso, as diferentes vertentes do cristianismo.

Este imaginário, que protege algumas vertentes religiosas, permite que atrocidades sejam cometidas em nome da fé e de uma pretensa moral. Ainda, a utilidade do manto místico dos saqueadores inspira formas modernas de dissimular a destruição. Como nos slogans: Deus é bom e agro é pop.

Assim, muitos líderes religiosos que sofrem acusações e processos por crimes como pedofilia, corrupção, violência sexual, apologia ao estupro, dentre outros, são muitas vezes protegidos por suas próprias comunidades de fé, no lugar de ser no mínimo repreendidos por elas.

Armados deste poder religioso, os cavaleiros do apocalipse tomaram de assalto as instâncias políticas, fornecendo a “Bíblia” como mais uma arma aos interesses compartilhados com a Bancada do “Boi” e a da “Bala” na manutenção de seus privilégios.

Os sinais deste verdadeiro apocalipse, patrocinado por um falso moralismo religioso, são abundantes. O avanço recente do projeto Escola Sem Partido é um deles. O projeto que tem como propulsora a bancada religiosa, segunda maior do Congresso, objetiva proibir a utilização do conceito de gênero e expressões como identidade de gênero em sala de aula.

No último 8 de maio, a comissão especial incumbida de analisar o projeto, também composta por integrantes da bancada religiosa, apresentou relatório favorável à proposta.

Ao criticar o que define como “ideologia de gênero”, o relator, o deputado Flavinho do PSC, não dissimula seu partidarismo, e aponta sem nenhum constrangimento a pluralidade e diversidade sexual como males a serem combatidos para o bem da continuidade da espécie e da manutenção da sociedade ocidental.

A falsa neutralidade exigida de quem está à frente da tarefa educativa é na verdade a obrigação de que se assuma a posição política excludente e opressora do projeto, que se constitui destarte como uma violação ao Estado laico e uma infinidade de direitos. Laicidade que é uma condição fundamental para uma democracia efetiva.

Para além dos canais de comunicação (tevê, rádio, jornal) de que são proprietários ou aliados, da utilização das novas mídias sociais digitais e dos seus tradicionais púlpitos como instrumentos de propagação ideológica, buscam agora o reconhecimento institucional para atuar com o mesmo fim no currículo e dinâmica escolares.

Uma interferência política grave no presente da educação, como também no futuro social, atuando deliberadamente para que as injustiças, as desigualdades e as violências de gênero não sejam enfrentadas e, portanto, sigam vigorando.

Inútil seria tentar argumentar com estes cavaleiros que o reconhecimento da existência de diferentes configurações familiares, da diversidade no campo da orientação e identidade sexual, não altera em nada os direitos daqueles que vivem situações reconhecidas dentro do padrão normativo atualmente. Mas sim a ampliação desses conceitos a fim de eliminar a zona de vulnerabilidade e desproteção de quem não é reconhecido pela norma.

Inútil ainda seria apresentar os dados históricos que comprovam que a civilização ocidental, forjada sob a égide religiosa com a força bélica e o esteio do ouro, verte sangue e suor da exploração e dor da maioria em prol do regozijo de uma ínfima minoria.

Inútil seria, pois é propriamente esta sociedade que pretendem manter. Seus alvos não são aleatórios, são desveladamente selecionados para abrir caminho ao projeto de dominação. Seguem eles, os cavaleiros do apocalipse, cavalgando leviandade e aniquilando qualquer manifestação de vida que se levante em meio a sua devastação.

Eles estão por toda a parte, utilizando Bíblias como armas antidireitos e vestindo Cristo como escudo. Mas não poderiam estar mais distantes “Dele”. Basta olhar com mais cuidado para ver que estão desnudos.

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