Diálogos da Fé

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Diálogos da Fé

Enfrentando os fundamentalismos na América Latina

É importante para o campo popular entender que o fenômeno não é algo que apenas os religiosos têm que lidar

Foto: Pexels/Creative Commons/Pixabay
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É impossível desvincular a religião dos projetos políticos de dominação e libertação na América Latina. Desde o colonialismo, a religiosidade foi utilizada para oprimir, violentar, escravizar como também para empoderar, organizar e libertar. Hoje em dia, a força da religião no Continente e o avanço de uma gramática religiosa na política institucional é notória. Cada vez mais religiosos, progressistas e reacionários, têm se articulado para propagar seus projetos, linguagens e demandas no cotidiano da fé e também das esferas de incidência pública.  

O fundamentalismo religioso tem se tornado realidade em todos os países de Nuestra América. Após a instauração do neoliberalismo nos territórios latino-americanos, houve um avanço da direita nas esferas políticas e sociais na região. Esse processo se refletiu não apenas pela retirada de direitos da classe trabalhadora, mas também em discursos de enfraquecimento das instituições democráticas. 

O fundamentalismo é, portanto, um dos instrumentos para esse projeto neoliberal e sua manutenção, que tem como objetivo a fixação por uma verdade única, imutável e inquestionável, sendo assim, é antidialógica e antiplural. A pesquisa do Fórum Ecumênico América do Sul da ACT Aliança, realizada em 2020, indica nitidamente esta questão. Essa verdade absoluta, dogmática, vai muito além da religião, ela constrói modelos de vida políticos, econômicos e sociais. 

É fato, como mencionamos acima, que a dimensão religiosa para o povo latino-americano e caribenho é algo que faz parte de nossa história, foi e é uma ferramenta fundamental para as resistências contra as opressões e para o avanço de lutas populares.  Porém, os fundamentalismos têm se infiltrado em todos os espaços, para além do âmbito religioso, e aliado a políticas neoliberais e extrativistas, tem avançado fortemente.

 É importante para o campo popular entender que o fundamentalismo religioso não seja algo que apenas os religiosos têm que lidar. Este fenômeno não está mais apenas dentro das paredes dos templos, antes está cada vez mais entranhado a nossa vida cotidiana, afetando as minorias e enfraquecendo a luta popular. 

Dessa forma, compreendemos que esses enfrentamentos não devem ser segmentados e fragmentados, mas antes devemos pensar estratégias entre o campo popular e os cristãos ecumênicos e progressistas, de toda a América Latina, para combater esses discursos. Não se vence o fundamentalismo nas urnas! A esquerda não deve cometer os mesmos erros de se acomodar com a vitória das eleições presidenciais e deixar a temática da religião como algo insignificante para a reconstrução do país.

Este ano foi dado um primeiro passo em direção a uma articulação latino-americana de enfrentamento ao fundamentalismo religioso a partir das ações do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). A Articulação Abya Yala teve início em 2021, com os movimentos populares, pesquisadores/pesquisadoras e ativistas ecumênicos do Brasil e de Cuba e, posteriormente, da Argentina, Chile e México. 

Em 2022 ocorreram três encontros: dois virtuais em maio e em novembro,  com mais de 80 representantes de movimentos populares, igrejas e organizações ecumênicas em toda América Latina e Caribe; um presencial em Cuba com organizações cubanas da Red por Fe en Cuba, animadas pelo Centro Memorial Martin Luther King Jr de Havana, e igrejas, movimentos e organizações do Brasil. Estes encontros têm o objetivo de propor ações concretas e comuns de enfrentamento aos fundamentalismos; aprofundar teoricamente sobre o fenômeno fundamentalista e consolidar um grupo de articulação política internacional.

É preciso ganhar as mentes e os corações de nosso povo de fé! Nos espaços cristãos, o caminhar do Jesus da Libertação precisa ser resgatado nas comunidades religiosas na qual tem sido pregado um Deus que está do lado dos opressores.  Nesse momento político e religioso que vivemos em Nuestra América é necessário arregaçar as mangas, fortalecer nossa espiritualidade libertadora, sendo ela religiosa ou não, e lutar por uma América Latina longe do fundamentalismo imperialista que tem assolado nossa fé.

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