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Cristo aponta para a preservação da Amazônia

“Preocupação da Igreja com Amazônia não é de agora e muito menos em razão de determinados governantes que estão no poder”

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Desde há muitos anos vozes ecoam pelo planeta falando sobre a importância de se preservar a Amazônia como fonte de vida para todos os povos. Muitos tombaram sob a violência das armas, derramando seu sangue em solo amazonense, gritando contra a exploração descabida e assassina desenvolvida por empresas estrangeiras e nacionais que visam unicamente o ganho financeiro.

O desmatamento e os incêndios levados a cabo por interesses latifundiários; a exploração dos rios pelos garimpos clandestinos que contaminam as águas e envenenam os peixes, atingem de modo cruel as pessoas que deles se alimentam. Os incêndios recentes dados em proporções jamais vistas, chamou a atenção de governos de todos os continentes para o perigo de uma catástrofe mundial.

Profeticamente, desde 1954 os Bispos da Amazônia têm se reunido periodicamente para tratar de assuntos pertinentes àquela região. Mas foi o Documento de Santarém produzidos pelos Bispos durante o encontro dado em 1972, que, inspirados pelas palavras do Papa Paulo VI, trouxe à tona a necessidade de “uma Igreja com rosto amazônico”.

Sobre a importância deste documento, o saudoso Arcebispo de Porto Velho, Dom Moacyr Grechi, falecido em junho deste ano, dizia tratar-se da “carteira de identidade da Igreja da Amazônia (…) conformando o nosso rosto, e como a Igreja foi tomando o rosto Amazônia”.

Passados 18 anos, uma outra reunião dos Bispos da Amazônia repercutiu internacionalmente: o encontro de Icoaraci realizado em 1990. Deste encontro, resultou a partilha dos Bispos sobre a grande preocupação que nutriam a respeito da “destruição do meio ambiente na Amazônia”, chamando de “semeadores da morte” àqueles que “agridem de forma violenta e irracional a natureza, destruindo as florestas, envenenando os rios, poluindo a atmosfera e matando povos inteiros”.

Os Bispos questionavam ainda os “grandes projetos causadores de danos irreparáveis madeireiras e mineradoras, barragens e hidrelétricas, a construção de novas estradas (…) A sangria da Amazônia já chega ao extremo e a criação de Deus geme no estertor da morte”, deploram os Bispos no documento “Em defesa da Vida na Amazônia”.

O grito profético dos Bispos ecoam em nossos ouvidos e mostram-nos os efeitos catastróficos causados pelas queimadas, o agronegócio, as mineradoras e os garimpos. Parafraseando Dom Erwin Kräutler, Bispo emérito do Xingu, podemos afirmar que “o documento é uma inequívoca denúncia, mas, ao mesmo tempo, uma vigorosa profissão de fé no Deus da Vida que “não fez a morte nem tem prazer em destruir os viventes”. (Sb 1,13).

A sensibilidade ecológica dos bispos da Amazônia, encontrou eco nos dias 23 e 24 de maio de 1990 na cidade italiana Assis, como proposta de um Manifesto Ecológico chamado de “Grito da Igreja em defesa da vida na Amazônia”.

Como podemos ver a preocupação com a Amazônia por parte da Igreja não é de agora e muito menos em razão de determinados governantes que assumiram o poder nos últimos anos, como querem fazer acreditar grupos ultraconservadores que defendem de forma inescrupulosa o ganho desenfreado de capital, ainda que isso custe a vida de milhares de seres vivos de todas as espécies.

Ouvindo o clamor dos bispos da Amazônia, preocupado com as questões ambientais que assolam o planeta, Papa Francisco publica em 2015 a Encíclica “Laudato Si: sobre o cuidado da casa comum”, na qual aborda criticamente o consumismo desenfreado e o desenvolvimento irresponsável gerador da degradação ambiental e das alterações climáticas. Francisco oferece uma reflexão aprofundada sobre os clamores que ouviu de setores religiosos, ambientais e científicos internacionais sobre a crise ambiental no qual nos encontramos.

Transcorridos dois anos, pouco mais ou menos, Papa Francisco anuncia no dia 15 de outubro de 2017, “atendendo o desejo de algumas Conferências Episcopais da América Latina, assim como ouvindo a voz de muitos pastores e fiéis de várias partes do mundo” a convocação de uma “Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Pan-Amazônia” a ser realizado em outubro de 2019.

Desde então, a organização do Sínodo sob a responsabilidade de Cardeais e Bispos, tem buscado esclarecer qual o objetivo principal desta convocação é o de identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta”.

Passou o tempo. O Sínodo para a Amazônia se aproxima. E, como em resposta a uma voz profética, em meio a turbulências políticas e geopolíticas geradas pelo descaso e pela arrogância de determinados governos que, em meio à destruição da floresta amazônica por incêndios criminosos, contrariamente ao que a grande maioria da população esperava que fizesse, ou seja, investigar e punir os responsáveis por tamanha catástrofe, volta-se contra aqueles que defendem a Amazônia em toda sua extensão.

O governo brasileiro, julgando-se a altamente capacitado para gerir todas as questões governamentais –o que, como temos visto é uma grande falácia -, assume uma posição de ataque contra movimentos sociais das mais diferentes frentes, tentando atribuir-lhes a responsabilidade pelos danos da floresta.

Não satisfeito, e baseando-se tanto em informações distorcidas da realidade propagadas pelas redes sociais quanto na opinião de cerca de cinco ou seis clérigos contrários a Igreja viva e em saída anunciada e defendida por Francisco, tenta incriminar também, bispos e padres responsáveis pela organização e realização do Sínodo para a Amazônia, chegando a afirmar que os órgãos responsáveis por investigar ações “terroristas” contra o governo os estão vigiados de perto.

Sobre o argumento que determinados grupos reacionários sob a bandeira da “Amazônia é nossa”, estão anunciando sobre a “internacionalização” da Amazônia, queremos lembrar que por graça da criação, a maior parte da região está em território brasileiro, e assim deve continuar. Mas que outros oito países, também tem em sua área territorial, grandes áreas amazônicas.

Visto por este prisma, a Amazônia já é internacional.

Não obstante, podemos dizer que a tal “internacionalização da Amazônia, vem acontecendo há muitos anos, quando vista sob a ótica da penetração e instalação de empresas estrangeiras que causam destruição e mortes à natureza e aos povos da região. Dom Erwin Kräutler, com a sabedoria que lhe é peculiar, afirma com toda propriedade:

“Considero de certo modo até grotesco esse mote frente às empresas estrangeiras que se estabeleceram com o aval dos diversos governos brasileiros. Há muito tempo se sentem donas da Amazônia e exploram solo e subsolo e a mão de obra barata. A maior parte das atividades econômicas está voltada para interesses de países que têm legislação muitíssimo mais severa que a nossa em relação à preservação do meio ambiente”.

Por fim, queremos dizer ao Presidente da República e seus asseclas, que a Igreja, o Papa Francisco juntamente com seus bispos e em sintonia com o povo de Deus, ultrapassa qualquer fronteira geopolítica para defender o bem, a verdade, a justiça e os direitos humanos para todos os povos, seguindo e anunciando o Evangelho de Jesus Cristo.

Contrários à visão do agronegócio e de seus aliados de que nenhuma terra deve estar fora do mercado, a voz que ecoa de quem está ao lado dos povos amazônicos diz: “Toda a terra a favor da Vida e da Paz!”. Visualiza-se assim dois projetos em confronto: “um a favor da Terra para a Vida, o outro a favor da Terra para Negócio. Nossa luta há de se intensificar para que a Vida seja vitoriosa!”.

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