As notícias dão conta de que Bolsonaro teria criado um esquema para receber dinheiro vivo com a venda de jóias doadas para a Presidência. Bolsonaro está mais perto de um escândalo de grandes proporções. Comprovadas as acusações, será desmoralizado e poderá, inclusive, ir preso.
Diante desta hipótese cada vez mais plausível, a pergunta que fica é: como ficará sua imagem entre os religiosos?
É claro que, apesar de a retórica anticorrupção ainda ser parte das narrativas associadas ao bolsonarismo, essa temática há tempos não é mais ponto central – tendência observada, aliás, em todo o espectro da direita. Se, durante o auge da Lava Jato, a esquerda e o petismo eram tachados de corruptos, a chegada da extrema-direita ao poder após o impeachment de Dilma enfraqueceu, diante de cada novo escândalo, o discurso moralista.
Entre os religiosos, essa dinâmica não foi diferente. Embora o discurso anticorrupção tenha sido parte fundamental do antipetismo evangélico, servindo inclusive para aproximar grandes líderes do bolsonarismo, essa pauta tem perdido importância para dar lugar ao discurso perene das pautas morais.
Ainda que haja semelhanças entre os conservadores religiosos e o restante do campo da direita, há diferenças a serem consideradas, e uma delas é em relação justamente à pauta da corrupção: entre o eleitorado geral, pode colar o discurso do tipo ‘todos são corruptos, mas apoio fulano por tal motivo’. Para os religiosos, contudo, ignorar a corrupção não é tão simples assim – especialmente para os líderes e pastores.
Nos últimos anos, quando surgiam notícias ou denúncias relacionadas à família Bolsonaro, o discurso predominante poderia ser resumido: “Caso seja provado algo contra ele, vamos reavaliar. Mas isso ainda não aconteceu, e ele é um aliado das nossas pautas”.
Agora, parecemos estar muito perto do momento em que algo será provado – e Bolsonaro será efetivamente condenado. Podemos, portanto, esperar um efeito no apoio evangélico ao campo bolsonarista.
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