Diálogos da Fé

Blog dedicado à discussão de assuntos do momento sob a ótica de diferentes crenças e religiões

Diálogos da Fé

Alguma coisa está fora da ordem

É possível acreditar na crença espírita de que o planeta caminha para o reino da paz, do amor e da generosidade?

Como cultivar esperança?
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“A época atual é de transição; confundem-se os elementos das duas gerações. Colocados no ponto intermédio, assistimos à partida de uma e à chegada da outra, já se assinalando cada uma, no mundo, pelos caracteres que lhes são peculiares.”

(A Gênese, de Allan Kardec – A geração nova, Cap. XVIII – Itens 27 e 28)

Sem sombra de dúvidas, os leitores devem ter ouvido a expressão “política, futebol e religião não se discutem”.

Por conta de afirmativas como esta, reproduzidas e reforçadas dentro e fora das casas espíritas, assistimos diariamente ao crescimento das ideias conservadoras.

Elas se utilizam da fé e do sagrado para referendar visões excludentes e discriminatórias, que nada se assemelham aos ensinamentos de amor, justiça, fraternidade e igualdade presentes na maioria das religiões, inclusive no espiritismo.

Com tristeza, tenho ouvido de amigos próximos que o mundo vai muito mal, e não precisamos ir muito longe para constatarmos isso. Notaram que os indivíduos adoecem mais (física, espiritual e mentalmente)?

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Reparei dia desses, ao voltar para o Brasil após três meses em Angola, que abriram, em um mesmo quarteirão, quatro farmácias. Ao indagar uma das gerentes, ela afirmou animada: “Vamos abrir mais duas nos próximos meses”.

Para muitas religiões cristãs, os tempos são chegados e alardeiam que o fim do mundo está próximo, assim como previsto em um dos livros bíblicos, o Apocalipse.

Segundo a crença espírita, o planeta atravessa um período de transformação, em que deixará de ser um mundo de provas e expiações e alcançará um mundo de regeneração, onde a paz, o amor e a generosidade prevalecerão entre os povos.

Como crer nessa teoria se diante de nós predomina o aumento da fome, de indivíduos em situação de rua, das guerras, do acirramento das diferenças partidárias, das perseguições – e assassinatos – de lideranças populares, políticas, religiosas, em especial as progressistas?

A impressão é que sempre que atravessamos momentos desafiadores, ideias separatistas, xenofóbicas, racistas e machistas ganham força. E aqueles autoproclamados representantes do horror, sob um falso empoderamento, ganham vez e voz, deixando parecer que não temos mais saída.

Investem na desesperança, na desunião, no desamor, com apoio de alguns setores da mídia, de grupos religiosos e de uma sociedade ainda presa ao justiçamento, ao linchamento – físico e moral.

Será que para melhorar experimentaremos ainda dias mais duros e tristes?

Como nos versos de Caetano Veloso, usado equivocadamente por um desses candidatos-bélicos do “quanto pior, melhor”: “Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial”.

Como elucida Allan Kardec, “para que na Terra sejam felizes os seres humanos, preciso é que somente a povoem espíritos bons, encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem. Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constituiriam obstáculo ao progresso. Substitui-los-ão espíritos melhores, que farão que reinem em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade”.

O espiritismo não é nem pretende ser o detentor das verdades absolutas, tampouco as suas lideranças. Costumamos dizer que devemos seguir a doutrina dos “espíritos” e não a doutrina dos “espíritas”.

A partir dessa ideia, cada qual responde pelas suas atitudes, prestando conta, com sua própria consciência, pelo bem ou mal que praticam, por meio de atitudes ou palavras.

Como não contribuir com o fomento do ódio e intolerância? Como manter elevado padrão vibratório diante da nova era? Como ser promotor/a do amor redivivo? Como colocar em prática aquilo que pregamos? Como rogar, com amor e generosidade para nossos políticos, mesmo que não tenham sido aqueles/as em quem votamos, elegemos e acreditamos?

Nós, do Movimento de Espíritas pelos Direitos Humanos, criado a partir da experiência com outras comunidades de fé, fortalecendo um diálogo ecumênico e a manutenção de um Estado laico, temos convidado cada um a se posicionar, a tomar partido, a descer do muro, a se incomodar com as mazelas sociais, a se mobilizar contra toda forma de opressão e ódio, no posicionamento a favor da desmilitarização da polícia e da política, pelos direitos das mulheres, contra a xenofobia, pois cremos ser esta a forma de praticar o evangelho de Jesus.

Temos convidado espíritas a olhar além do muro de seus centros (físicos e simbólicos) e tomar as ruas, onde há muita gente precisando de conforto e apoio de toda natureza.

Que possamos, antes de fazer a nossa oferta, reconciliarmo-nos com os nossos adversários, abrindo nossas mentes e nossos corações às verdades celestiais e ajudando na construção de um Brasil mais justo, igualitário e inclusivo.

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