Desabafo Social

Jovens do Nordeste de Amaralina ganham o Brasil

Do sul ao norte do país, de São Paulo a Salvador, esses jovens subvertem o ideário do senso comum

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Talvez você nunca tenha ouvido falar do Nordeste de Amaralina, periferia de Salvador. Ou já ouviu falar na perspectiva da escassez e violência pelo olhar dos veículos de massa tradicionais.

De acordo com o censo 2010 do IBGE, a área formada por quatro bairros (Nordeste, Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e Chapada do Rio Vermelho), possui cerca de 77 mil habitantes.

Sobre faixa etária, o Nordeste tem 25% de adolescentes e jovens, que significa em números absolutos 12.300 habitantes. E é esse público que vem
reconstruindo a imagem do bairro pela ótica da abundância e com inovações a partir das possibilidades.

Entre os diamantes do bairro está Mauricio Sacramento, produtor cultural e idealizador da Batekoo, empreendimento de arte e entretenimento.

Surgiu em 2016 e hoje vem ganhando repercussão não só em Salvador, mas também no Rio de Janeiro e São Paulo. A Batekoo é um exemplo claro de como o consumo cultural está relacionado com a experiência. E neste caso, ótimas experiências e acolhimento para o público, majoritariamente, preto e LGBTQI+.

Movimento que vem subvertendo ideais relacionadas a ocupação, estética e liberdade, as experiências possibilitadas pela Batekoo tornaram-se pauta na série de documentários produzidos pela Red Bull Music e Culture, intitulada Inspire the Night.

O doc Brazil’s LGBTQ Youth Find Hope in Batekoo que tem alcançado repercussões nacionais e internacionais, narra para além das experiências vivenciadas por aqueles que tornaram-se público do evento, a importância da construção de novas possibilidades de existir, contando com depoimentos de artistas como Linn da Quebrada, Rincon Sapiência, Karol Conká e da gloriosa Leci Brandão.

“Se nós pensarmos nos corpos como fazendo parte de uma escala sexo-social, sexo, classe, raça e social, alguns corpos estão mais próximos do topo, mais próximos daquilo que nós identificamos e legitimamos como enquanto vida, “isso sim é vida”, e daí você quer ter uma vida também… A Batekoo é luta e é celebração, celebrar os nossos corpos, celebrar as nossas vidas e fazer com que nossos corpos, ali, naquele espaço, sejam vida.” Linn da Quebrada.

A atriz e modelo Ayana Amorim também é do Nordeste, mais especificamente do Vale das Pedrinhas. Ayana já estrelou o clipe “Baiana”, de Emicida e fez campanha publicitária para grandes marcas como Nívea e Levis.

Adryelhe Peixoto, tem 18 anos, e também é moradora do Nordeste de Amaralina, especificamente no bairro da Santa Cruz, é a nova Miss Brasil 2018.

Com uma trajetória de disputas e vitórias em diversas premiações e concursos, como Concurso Beleza Black e Miss Bahia Juvenil, ala também já foi eleita a Miss Bahia, Miss Salvador.

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Adryelhe iniciou sua carreira nas passarelas aos 14 anos e desde sempre pautou a representatividade como fonte para sua inspiração e determinação.

Além deles, tem a empreendedora e criadora de conteúdo Monique Evelle. Reconhecida pela Forbes como “30 under 30”, Monique é idealizadora de diferentes negócios sociais como Desabafo Social e Evelle. Já fez três TEDx, participou do Conectados Al Sur, Global Symposium Artificial Intelligence & Inclusion, da Universidade de Harvard e diversos outros eventos nacionais e internacionais.

Na área de pesquisa Monique fez parte do time de pesquisadores do Arquivo e do Acervo do Museu Etnográfico e Antropológico Estácio de Lima na 3ª edição da Bienal de Arte da Bahia e viajou cidades brasileiras pesquisando sobre Inovações Políticas nas Periferias pelo Instituto Update, sendo base para a série “Política: Modo de Usar”, da GloboNews.

Ela faz parte da Red de Innovación Política en América Latina e escreveu sobre práticas de inovações políticas em territórios brasileiros para o livro “Qué democracia para el siglo XXI?’, organizado pela instituição Asuntos del Sur.

Monique foi repórter do Profissão Repórter, da Rede Globo, idealizou a campanha “Aliados pelo Respeito”, do Bradesco e teve sua história contada no documentário “Os Originais”, da Netflix.

Esses quatro jovens são exemplos de como a juventude negra tem percebido o grande desafio de construir novas narrativas, no Brasil eno mundo. A ressignificação dos moldes sobre corpos, vida, sucesso e comunidade, quando associada a grupos marginalizados, contrariam estatísticas que assombram a existências desses sujeitos.

Do sul ao norte do país, de São Paulo a Salvador, esses jovens subvertem ideais que tanto foram reproduzidas pela mídia tradicional e pela história. A celebração das suas vidas e das suas conquistas soam enquanto subversão.

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