COP30
O próximo passo da COP30
O embaixador André Corrêa do Lago apela por urgência e resultados concretos na Conferência
Em sua oitava carta endereçada à comunidade internacional, a presidência da COP30 escolheu o tema da adaptação climática e convidou os países participantes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e demais atores a refletir sobre a necessidade de se adaptar ao aquecimento global como “o próximo passo da evolução humana”.
O documento destaca os números da pobreza em 2025, publicados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Segundo a ONU, cerca de 1,1 bilhão de pessoas — de um total de 6,3 bilhões em 109 países — vivem em pobreza multidimensional aguda. Mais da metade é de crianças.
A carta ressalta que, neste contingente de pobres, pelo menos 887 milhões de pessoas vivem em regiões que já enfrentam ao menos um grande risco climático, e 309 milhões lidam com três ou mais riscos simultaneamente: “A empatia nos obriga a perceber as vidas humanas por trás desses números: pequenos e microempreendedores perdendo seus negócios e sonhos, famílias deslocadas por enchentes, agricultores vendo seus campos secarem, crianças caminhando quilômetros em busca de água”.
Assinado pelo embaixador André Corrêa do Lago, o documento afirma que a Conferência colocará à prova “nossa capacidade de deixar de lado as diferenças e enfrentar a crise climática como a ameaça existencial que ela representa”. A cooperação, diz o presidente da COP30, deve novamente emergir como o princípio organizador da resposta global: “Nossa capacidade de implementar os dispositivos sobre adaptação da UNFCCC e do Acordo de Paris por meio de uma cooperação internacional fortalecida determinará se evoluiremos não apenas para sobreviver, mas para nos tornarmos a melhor versão da humanidade – lastreada em dignidade, justiça e solidariedade”.
O diplomata faz um apelo por urgência e resultados concretos na COP30, e afirma que, apesar de compromissos sucessivos, o financiamento para adaptação ainda representa menos de um terço do total do financiamento climático, muito aquém das necessidades: “A falta crônica de investimentos deixa os países vulneráveis, obrigando-os a desviar recursos escassos da saúde, da educação e da infraestrutura para respostas emergenciais e ações de recuperação. O desequilíbrio entre mitigação e adaptação enfraquece a resiliência coletiva e perpetua desigualdades estruturais”.
Segundo o presidente da COP30, é preciso romper esse ciclo vicioso: “A adaptação é a própria essência do desenvolvimento sustentável em um mundo em mudança climática. Ela fortalece a estabilidade fiscal, reduz o risco dos investimentos e aumenta a produtividade”. O Banco Mundial, aponta Corrêa do Lago, estima que medidas robustas de adaptação podem gerar até quatro vezes o seu custo em benefícios econômicos: “O financiamento para adaptação, portanto, não deve ser visto apenas como assistência”.
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