Olho na COP

Veterano das grandes conferências mundiais, o repórter Maurício Thuswohl acompanha os preparativos e bastidores e desafios da Conferência do Clima em Belém.

Olho na COP

A COP30 e o eterno impasse das conferências do clima

O governo brasileiro e a presidência da conferência terão que suar para tentar desatar os dois nós que há anos mantêm amarradas as discussões climáticas

A COP30 e o eterno impasse das conferências do clima
A COP30 e o eterno impasse das conferências do clima
André Correa do Lago, presidente da COP30. Foto: Yuri CORTEZ / AFP
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Além dos problemas logísticos que jogaram às alturas os preços de hospedagem em Belém durante a COP30 e do risco de esvaziamento político provocado com a baixa apresentação de novas NDCs pelos países signatários do Acordo de Paris, o governo brasileiro e a presidência da conferência terão que suar um bocado para tentar desatar os dois nós que há anos mantêm amarradas as discussões climáticas.

Um deles é a redução da exploração, produção e uso de combustíveis fósseis. O outro é o aumento e efetivação da contribuição financeira dos países ricos a medidas de adaptação às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento.

Para se ter uma ideia da realidade em relação ao primeiro tema: os investimentos em energias renováveis aumentaram e chegaram a 170 bilhões de dólares, mas o subsídio à exploração fóssil também cresceu e seu montante chegou ao recorde de 1,5 trilhão de dólares.

Já no segundo tema, até hoje os países ricos sequer chegaram perto de cumprir a promessa de investimentos anuais de 100 bilhões de dólares até 2025, feita na COP15 de Copenhague, e elevada a 300 bilhões anuais até 2035 na COP29 realizada no ano passado em Baku. Segundo as contas da própria ONU, o montante necessário para uma efetiva adaptação dos países mais pobres ao clima é de 1,3 trilhão de dólares anuais.

O impasse nesses dois temas permaneceu durante a realização em Brasília do encontro preparatório conhecido como pré-COP, que reuniu ministros de Estado de 67 países entre nos dias 13 e 14 de outubro. Apesar da paralisia que inibiu o avanço no alinhamento de conceitos e objetivos quanto a temas como transição, adaptação e implementação, a boa notícia ficou por conta da ativa participação de China e Índia – dois países do BRICS e também dois grandes emissores de carbono – durante as discussões na capital federal.

Coordenador do Observatório do Clima, Márcio Astrini, que participou da Semana do Clima realizada no mês passado em Nova York durante a Assembleia Geral da ONU, destaca que a agenda climática enfrenta hoje uma concorrência de atenção e de foco por conta das crises múltiplas que afetam o momento geopolítico, com as guerras na Ucrânia e em Gaza e a tensão tarifária despertada pelo governo de Donald Trump: “Sem dúvida, esse cenário de crise no multilateralismo vai acabar influenciando de forma negativa a COP”, constata.

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