Olho na COP
Veterano das grandes conferências mundiais, o repórter Maurício Thuswohl acompanha os preparativos e bastidores e desafios da Conferência do Clima em Belém.
Olho na COP
A COP30 e o eterno impasse das conferências do clima
O governo brasileiro e a presidência da conferência terão que suar para tentar desatar os dois nós que há anos mantêm amarradas as discussões climáticas
Além dos problemas logísticos que jogaram às alturas os preços de hospedagem em Belém durante a COP30 e do risco de esvaziamento político provocado com a baixa apresentação de novas NDCs pelos países signatários do Acordo de Paris, o governo brasileiro e a presidência da conferência terão que suar um bocado para tentar desatar os dois nós que há anos mantêm amarradas as discussões climáticas.
Um deles é a redução da exploração, produção e uso de combustíveis fósseis. O outro é o aumento e efetivação da contribuição financeira dos países ricos a medidas de adaptação às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento.
Para se ter uma ideia da realidade em relação ao primeiro tema: os investimentos em energias renováveis aumentaram e chegaram a 170 bilhões de dólares, mas o subsídio à exploração fóssil também cresceu e seu montante chegou ao recorde de 1,5 trilhão de dólares.
Já no segundo tema, até hoje os países ricos sequer chegaram perto de cumprir a promessa de investimentos anuais de 100 bilhões de dólares até 2025, feita na COP15 de Copenhague, e elevada a 300 bilhões anuais até 2035 na COP29 realizada no ano passado em Baku. Segundo as contas da própria ONU, o montante necessário para uma efetiva adaptação dos países mais pobres ao clima é de 1,3 trilhão de dólares anuais.
O impasse nesses dois temas permaneceu durante a realização em Brasília do encontro preparatório conhecido como pré-COP, que reuniu ministros de Estado de 67 países entre nos dias 13 e 14 de outubro. Apesar da paralisia que inibiu o avanço no alinhamento de conceitos e objetivos quanto a temas como transição, adaptação e implementação, a boa notícia ficou por conta da ativa participação de China e Índia – dois países do BRICS e também dois grandes emissores de carbono – durante as discussões na capital federal.
Coordenador do Observatório do Clima, Márcio Astrini, que participou da Semana do Clima realizada no mês passado em Nova York durante a Assembleia Geral da ONU, destaca que a agenda climática enfrenta hoje uma concorrência de atenção e de foco por conta das crises múltiplas que afetam o momento geopolítico, com as guerras na Ucrânia e em Gaza e a tensão tarifária despertada pelo governo de Donald Trump: “Sem dúvida, esse cenário de crise no multilateralismo vai acabar influenciando de forma negativa a COP”, constata.
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