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O que fará o ativismo ambiental no Brasil pós-Semana do Clima de NY?

Inspirados pelo discurso de Greta Thunberg, jovens líderes de mobilizações retornam ao Brasil buscando mudanças práticas

Kaime durante a Greve Global pelo Clima em Nova York (Foto: Arquivo pessoal)
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“A greve global foi uma forma de mostrarmos para o mundo que não aceitaremos mais a inércia dos países no enfrentamento da catástrofe climática. É hora de agir”, declara Kaime. “É responsabilidade de cada um voltar para as suas realidades locais, arregaçar as mangas e começar a fazer”, reforça Gabriel. É com essa vontade de “fazer acontecer” que jovens do mundo inteiro começam a se despedir da Semana do Clima de Nova York, que acaba neste domingo 29. 

Líderes de campanhas em prol do meio ambiente, criadas na plataforma de abaixo-assinados online Change.org, o ativista ambiental mato-grossense Kaime Silvestre, de 22 anos, e o advogado acreano Gabriel Santos de Souza, de 25, passaram uma semana em Nova York, discutindo com outros jovens e autoridades de diversos países medidas práticas e emergenciais para enfrentar de uma vez por todas os graves problemas climáticos que o Brasil e o mundo atravessam.

Imersos em intensas discussões sobre a Amazônia e o futuro sustentável das atuais e próximas gerações, ambos lamentaram o discurso do presidente Jair Bolsonaro realizado na abertura da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) na terça-feira 24, porém, saíram fortalecidos dos debates para levar adiante as causas que defendem, conforme explica Kaime. 

“Foi revigorante participar de todos esses espaços, porque estive com outros jovens que também estão inconformados com as posições dos líderes mundiais em relação ao planeta, em relação à crise climática. Foi uma oportunidade de compartilhar experiências, formar redes de mobilização para pressionar esses líderes a agirem efetivamente para frear a crise climática. Deixo Nova York fortalecido a continuar nessa jornada por políticas ambientais e climáticas efetivas”, conta Kaime, que participou da Cúpula Jovem e da Cúpula do Clima, além de outros eventos. 

O ativista é autor de um abaixo-assinado online, que integra o movimento #AllinforClimateAction e pede que o Brasil declare estado de emergência climática. Em Nova York, o estudante de Direito protestou na Greve Global pelo Clima, assistiu ao discurso da jovem ativista sueca Greta Thunberg e ainda conversou com ministros de países como China, Sudão e Bélgica. 

“O mundo está chocado com os rumos da política ambiental brasileira com a ascensão de Bolsonaro ao poder. Políticas verdes que estavam sendo construídas há mais de 30 anos estão sendo ignoradas pelo novo governo. Pude ver que as pessoas estão muito preocupadas com o cenário catastrófico que se passa no Brasil, como o aumento estratosférico do desmatamento da Amazônia e a liberação desmedida dos agrotóxicos”, aponta o mato-grossense.

Assim como Kaime, Gabriel também teve a percepção de que o mundo está preocupado com o papel do Brasil diante dos desafios ambientais, em especial sobre as queimadas e o aumento do desmatamento na Amazônia. O jovem advogado acreano lidera uma campanha para que o governo e o Congresso Brasileiro investiguem e combatam os incêndios florestais. Hospedada na Change.org, a mobilização reúne 4,8 milhões de assinaturas coletadas em mais de 20 países. 

Na cidade norte-americana, Gabriel assistiu ao debate “Amazônia Possível”, a uma discussão no Harvard Club sobre a crise da Amazônia, a uma palestra que contou com a participação de parlamentares brasileiros na Universidade de Nova York, além de participar da Greve Global. 

Acreano participou de inúmeros debates na Semana do Clima em Nova York (Foto: Arquivo pessoal)

Ativismo em prática: hora de ir além dos debates

Apesar de acreditarem que o governo brasileiro segue na contramão de propostas apresentadas para o enfrentamento dos problemas ambientais, os jovens líderes confiam na organização da sociedade civil para criar caminhos que levem a soluções efetivas a partir de agora. 

“Não adianta a gente ficar só no debate, só na discussão, a gente precisa aprofundar isso com encaminhamentos práticos. O que a gente pode fazer de maneira prática para resolver o problema? É pressionar, protestar, encaminhar, criar projetos de leis”, sugere Gabriel. “Esses dias ouvindo e aprendendo foram muito proveitosos e eu tenho certeza que volto com mais motivação e inspiração para ativar atores locais e realizar as mudanças que a gente precisa na Amazônia”.

Muitos líderes mundiais foram ao púlpito da Cúpula do Clima fazer discursos e apresentar promessas e compromissos públicos em defesa do meio ambiente, saindo de lá com um claro recado dos jovens ativistas: “as próximas e a atual geração têm o direito a ter um futuro e isso é inegociável”, conforme diz o advogado acreano. Antes das autoridades, mais de 600 jovens líderes se reuniram na Cúpula Jovem da ONU para propor soluções e estratégias de atuação.  

“Agora quero ver os líderes cumprindo suas propostas nos seus países. Essas promessas públicas que eles fizeram não são suficientes, exigimos ação”, protesta Kaime, que ao lado de outros 29 jovens compôs o grupo de trabalho que organizou a Cúpula Jovem da ONU. “Foram meses de trabalho direto com a enviada da Juventude do secretário-geral da ONU”, detalha o mato-grossense que também faz parte da Coalizão Internacional de Jovens pelo Clima. 

“Bolsonaro desafia a inteligência humana com seus discursos levianos e carregados de ódio”, diz Kaime. (Foto: Arquivo pessoal)

“Nós participamos das conferências de clima da ONU pressionando de forma direta os líderes e representantes de governo nesses espaços, bem como fortalecemos nossa ação global”, ressalta Kaime. Para o estudante de Direito, além dos atos e debates, outras formas de mobilização também são necessárias, como o abaixo-assinado online que ele mantém aberto. 

“Eu acredito nas petições como uma importante ferramenta de pressão e mobilização social. As pessoas devem saber o que se passa”, diz Kaime. “A [forma de mobilização] que considero mais importante para frear a crise climática é votar em candidatos que se preocupam com o meio ambiente, com a preservação da nossa biodiversidade. E claro, adotar hábitos menos danosos ao meio ambiente. Reduzir o consumo de carne, por exemplo, ajuda a frear o desmatamento da Amazônia pois o objetivo desse é justamente expandir a área de pastagem”, completa. 

Além da petição de Kaime, outras 90 integram o movimento #AllinforClimateAction na plataforma Change.org. São mais de 1,3 milhão de apoiadores em diversos países pressionado líderes de todo o mundo a declarem emergência climática e agirem com efetividade para freá-la. “Todas as formas de mobilização são necessárias, não temos tempo a perder”, finaliza o jovem.  

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