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Às escuras, amapaenses recorrem a abaixo-assinado para protestar

Morador de Macapá reuniu mais de 56 mil assinaturas; mobilização narra sensação de abandono e impotência e denuncia irresponsabilidades

Com energia em esquema de rodízio, cidadãos temem novos apagões (Foto: Reprodução/Redes sociais) Com energia em esquema de rodízio, cidadãos temem novos apagões (Foto: Reprodução/Redes sociais)
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“Como pode o povo amapaense ter paciência, quando nossas vidas giram em torno de um racionamento absurdo, impontual e nada transparente, além do constante risco de um terceiro apagão?”, questiona Manoel Vidal, morador de Macapá (AP), em meio ao estado de abandono em que os amapaenses se sentem desde que um incêndio na principal subestação do Amapá condenou quase 90% da população a uma crise que já dura mais de duas semanas. 

O desabafo foi feito por Vidal em um dos posts que, constantemente, publica para atualizar o abaixo-assinado que lançou na plataforma Change.org. Praticamente todos os dias, o cidadão recorre ao instrumento para manifestar a indignação dos amapaenses e registrar há quantos dias e horas eles estão sujeitos ao ataque de seus “direitos mais básicos”, conforme diz no texto. A petição já engaja 56 mil pessoas em torno do apelo “SOS Amapá”. 

Em sua fala, Vidal faz referência às recentes declarações do diretor da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), Marcos Pereira, que pediu que os consumidores tenham paciência ao sinalizar para uma possível suspensão do rodízio de energia. A CEA é a companhia que realiza a distribuição da eletricidade no Estado do Amapá. 

Surpreendidos por um segundo apagão nesta semana, com causas ainda não esclarecidas, os amapaenses também se queixam da falta de transparência em meio à crise energética e temem novas ocorrências de blecaute, como narrou Vidal no post de atualização da petição. O pesadelo dos moradores começou na madrugada do dia 3, quando ocorreu uma explosão seguida de incêndio na principal subestação que alimenta o Estado. 

As chamas atingiram três transformadores – um deles em manutenção desde o fim do ano passado – deixando 13 das 16 cidades do Amapá às escuras. Os dias que se seguiram foram de filas nos supermercados, falta de gasolina e escassez de água e gelo, já que sem energia elétrica, o sistema hidráulico do Estado também ficou comprometido. Como numa reação em cadeia, comércios, além de serviços de telefonia e internet sofreram os impactos.  

Um dos focos do abaixo-assinado aberto pelo morador da capital amapaense é que seja feita uma revisão no cronograma do fornecimento de energia. Depois do apagão, um dos transformadores foi recuperado e, desde então, a energia passou a ser parcialmente distribuída de forma racionada à população. Primeiro, em intervalos de 6 em 6 horas e, depois, fracionada durante o dia e a noite em datas alternadas e com turnos menores de interrupção.

O rodízio sentenciou os amapaenses a viverem noites de um “verdadeiro inferno”, como afirma o autor do abaixo-assinado. Por isso, apela por uma revisão no cronograma. 

“Milhares de amapaenses desde 3/11/2020 não podem ter uma noite de sono mínima por causa da falta de energia que, unida ao grande calor regional, torna as noites sem qualquer sistema de ventilação elétrico um verdadeiro inferno, deixando nossos bebês e crianças sem dormir e chorando todas as noites, pessoas com deficiência, idosos e doentes sem qualquer segurança para o descanso necessário, e trabalhadores e empreendedores a cada dia mais exaustos por não poderem descansar”, ressalta Vidal no texto do manifesto. 

À espera de providências

Há mais de duas semanas na crise, moradores protestam (Foto: Rudja Santos/Amazônia Real)

Na última segunda-feira 16, 47 geradores termelétricos chegaram ao Amapá. Conforme entram em operação devem, gradativamente, restabelecer a distribuição de energia elétrica para todo o Estado. A solução, entretanto, é provisória. O fornecimento regularizado e seguro depende da montagem de um segundo transformador na subestação. O equipamento foi transportado de Laranjal do Jari, no sul do Amapá, e chegou ao local nesta quarta (18).  

Enquanto a situação não se normaliza, os assinantes da petição propõem que o cronograma seja revisto levando em consideração a não interrupção no fornecimento de eletricidade no período entre meia-noite e 6 horas, todos os dias. Outra solicitação é que a energia dos centros comerciais e de regiões que não possuem residências, como pontos turísticos, seja desligada a partir das 18 horas e remanejada para as casas até às 6 horas. 

Além disso, o manifesto ainda traz uma denuncia: possíveis privilégios no fornecimento do serviço. “Conjuntos e residenciais que não possuem unidades de saúde 24 horas ou estações de abastecimento de água foram agraciados com energia 24 horas sem interrupções e sem qualquer justificativa pública”, afirma o texto, pedindo que haja uma investigação.  

Em nota de esclarecimento, o Ministério de Minas e Energia (MME) diz estar “envidando todos os esforços para a recomposição do fornecimento de energia elétrica” o mais rápido possível. A pasta afirma, ainda, que as razões para os desligamentos estão sendo verificadas e que as responsabilidades serão apuradas. O ministério destaca também que o sistema terá um acréscimo nos próximos dias devido à chegada dos geradores e do transformador.  

A previsão de energização dos geradores em processo de montagem e intalação é até este sábado (21); já para o transformador a estimativa de energização é até o dia 26. 

Na última terça-feira (17), o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), André Pepitone, participou de uma audiência do Congresso e respondeu a perguntas de senadores e deputados sobre as ações e investigações relacionadas ao apagão. Cabe à agência a fiscalização da prestação do serviço no setor de transmissão de energia no país. 

Pepitone disse que a ANEEL está apoiando as medidas para normalizar a situação. ”Vamos apurar com todo o rigor a responsabilidade dos atores envolvidos. Não vamos apurar somente as causas da falta do serviço de energia no Amapá e apresentar as medidas corretivas, vamos também apurar responsabilidades e aplicar punição”, disse na ocasião. 

A equipe da Change.org tentou contato com a Companhia de Eletricidade do Amapá para saber se as demandas apresentadas no abaixo-assinado pelos cidadãos amapaenses serão atendidas, porém, até a finalização da matéria, não recebeu retorno do e-mail enviado. 

A subestação onde a incêndio ocorreu é operada pela concessionária LMTE (Linhas de Macapá Transmissora de Energia). Investigações relacionadas à origem e responsabilidades estão em andamento a cargo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), da Agência Nacional de Energia Elétrica e também da Polícia Civil e Polícia Federal. 

SOS

Mais de uma centena de atos de protestos já aconteceu no Amapá para chamar a atenção do país à situação que os moradores enfrentam. O abaixo-assinado também segue aberto com esse objetivo e com a intenção de pressionar as autoridades por providências. 

“Contamos com seu apoio para que mais pessoas saibam o que o povo amapaense tem sofrido por causa da irresponsabilidade de empresas privadas ao gerirem os recursos energéticos do Estado, e a falta de fiscalização das autoridades competentes”, pede o autor da petição na mais recente mensagem de atualização postada na página do manifesto.

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