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‘Acorda, Cinderela’: Campanha alerta sobre golpes com intoxicação por gás

Iniciativa sugere medidas para prevenir e combater casos; manifesto coleta assinaturas para que ocorrências sejam consideradas crimes no Código Penal

Relatos de casos em carros de aplicativo se multiplicam nas redes sociais (Foto: Reprodução)
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O que fazer se, ao entrar em um carro de aplicativo, você sentir um cheiro forte e logo começar a passar mal, ter sonolência, olhos arderem, braços e pernas ficarem dormentes? Relatos assim, de intoxicação por gás, vêm se espalhando nas redes sociais e gerando preocupação. 

E não é à toa. As ocorrências com “drogas de estupro”, que incluem esta nova modalidade de golpe e o já conhecido “Boa noite, Cinderela”, aumentaram desde que se encerrou o período de restrições da pandemia e as pessoas voltaram à normalidade da vida social. 

Somente no estado de São Paulo, a Polícia Técnico-Científica identificou uma alta de 78,94% em exames toxicológicos que apontaram uma das substâncias costumeiramente utilizadas nesses golpes. O aumento se deu entre 2019 e 2021.  

A fim de alertar a população e propor ações que previnam e combatam os casos, uma campanha foi lançada na internet. Chamada de “Acorda, Cinderela”, a ação conta com um ?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> style="font-weight: 400;">vídeo de orientação, cartilhas educativas e materiais de apoio também para quem já foi vítima.  

“A campanha ‘Acorda, Cinderela’ tem o objetivo de fazer com que a sociedade acorde para o aumento dos crimes com drogas de estupro em todo o Brasil”, explica Carolina Cohen, cofundadora da Colabore com o Futuro, empresa de mobilização social e advocacy idealizadora da campanha. “O grande objetivo da campanha é, realmente, trazer mais atenção para esses crimes e garantir que a sociedade saiba como se proteger.”

A cartilha educativa, que pode ser acessada no site da campanha, lembra a importância de jamais aceitar ou compartilhar bebidas com estranhos, sempre comprar seu próprio drink e acompanhar a preparação dele, além de nunca deixar longe seu copo ou sua garrafa.

Já as dicas que se aplicam aos casos em carros de aplicativo incluem sempre compartilhar a rota e dados do motorista com uma pessoa de confiança; abrir as janelas de trás, cobrir o rosto e tentar sair do carro ao sentir um cheiro diferente; clicar no botão “Chamar Polícia” no aplicativo do carro; e avisar alguém por mensagem e pedir que ligue para a polícia. 

Abaixo-assinado pede que os casos se tornem crime

A campanha conta com um vídeo com alertas e orientações (Crédito: Colabore com o Futuro/Divulgação)

O aumento das ocorrências preocupa e uma apreensão maior ainda é saber que elas não são consideradas crimes, caso o autor tenha apenas dopado a vítima, mas não cometido estupro, roubo ou sequestro, que são as finalidades mais comuns desses golpes.  

Por entender que a não previsão dessa prática no Código Penal dificulta a penalização do autor, a campanha “Acorda, Cinderela!” propõe que a legislação seja alterada. Este foi, segundo Carolina, um dos pontos a motivar o lançamento da ação. 

Além da inclusão desse golpe no Código Penal, a mobilização sugere iniciativas que envolvem outros setores da sociedade, como governos e donos de bares, restaurantes e baladas. Uma das propostas é que esses locais possuam placas que informem sobre o delito e que os espaços ofereçam a opção de servir drinks em copos com tampas. 

“Para mudar o cenário de aumento de crimes com drogas de estupro no Brasil, precisamos que algumas medidas sejam tomadas”, aponta Carolina. “Informação é o primeiro passo para a prevenção. Desta forma, os bares e casas noturnas também podem ajudar na prevenção desses crimes.”

Outra proposta é que os medicamentos normalmente usados nessas práticas passem a ser fabricados com cor, gosto e cheiro, já que, em geral, são transparentes, inodoros e não têm gosto. Essa alteração impediria as vítimas de ingerir as substâncias sem se dar conta. 

Para que as sugestões da campanha sensibilizem as autoridades e os setores envolvidos, a “Acorda, Cinderela” está coletando assinaturas da população em um manifesto. A petição online já engaja mais de 1,5 mil signatários e está aberta na plataforma Change.org. 

“A sociedade se mobilizando, a gente vai conseguir, sem dúvida nenhuma, garantir que as pessoas consigam se proteger, se prevenir desses crimes, e a gente vai conseguir diminuir esses números que estão tão alarmantes no Brasil”, ressalta Carolina. 

Confira o manifesto na íntegra: http://change.org/AcordaCinderela 

Riscos para a saúde

Além dos riscos dos crimes decorrentes do golpe, há perigos para a saúde, bem como sequelas emocionais. Em doses elevadas, uma das drogas provoca perda da consciência, depressão respiratória e queda dos batimentos cardíacos, podendo levar ao coma e até à morte. 

Em altas doses, outro medicamento pode causar distúrbios de fala e visuais, amnésia e vômitos. Em casos mais graves, há a possibilidade de depressão respiratória, apneia e convulsões. Já uma terceira droga da classe de medicamentos tarja preta, também utilizada na prática, tem como característica diminuir a atividade do sistema nervoso central.

A campanha “Acorda, Cinderela” também alerta que qualquer pessoa pode ser vítima de uma droga de estupro. De adolescentes a idosos, homens e mulheres de todas as orientações sexuais podem ser levados à vulnerabilidade absoluta por meio dessa prática. O objetivo dos criminosos nem sempre é o abuso sexual, mas também o roubo ou a extorsão. 

“É imprescindível informar a sociedade sobre os efeitos emocionais e físicos que esses medicamentos podem causar, além de reforçar a importância de essas drogas serem sempre vendidas com receita e muito critério”, finaliza a cofundadora da Colabore com o Futuro. 

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