Cartografia do Poder
O que está por trás das agendas do governo, políticos, entidades e empresas. E o que esses encontros – ou a falta deles – revelam
Cartografia do Poder
A agenda de Bolsonaro como presidente e a atual briga por seu apoio em São Paulo
Marçal e Nunes só foram recebidos oficialmente pelo ex-presidente uma vez cada um. O midiático Datena foi o mais prestigiado


Enquanto presidente, Bolsonaro não conseguiu consolidar uma base política forte em São Paulo – o que agora se reflete na disputa pela Prefeitura da maior cidade do Brasil. Com as eleições municipais se aproximando, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), e o coach Pablo Marçal (PRTB), disputam, entre afagos e tropeços, a unção do ex-presidente.
Eleito em 2018 sob uma onda de conservadorismo e antipetismo, Bolsonaro tentou exercer o poder com uma estrutura quase suprapartidária – todos queriam estar perto do ex-capitão, enquanto ele acreditava não precisar de ninguém.
Sua atenção sempre esteve voltada para a política nacional, negligenciando articulações locais, como as necessárias para fortalecer uma base em São Paulo. Durante seu mandato, priorizou alianças com figuras que atuavam em nível federal, como Tarcísio de Freitas, então ministro da Infraestrutura, com quem teve mais de 170 reuniões ao longo do mandato.
Nas eleições municipais de 2020, essa falta de interesse tornou-se ainda mais evidente. Bolsonaro não demonstrou empenho em apoiar candidatos nas prefeituras, o que contribuiu para a fragmentação de sua base em São Paulo.
Marçal e Nunes, por exemplo, só foram recebidos oficialmente por Bolsonaro uma vez cada um, segundo registros de agendas oficiais. Datena foi o mais presente nas agendas com 4 encontros mostrando que, à época, a visibilidade midiática era o que mais lhe interessava.
Essa história, como toda boa novela, serve de lembrete: na política, assim como no amor, a reciprocidade é essencial. Marçal deve redefinir rotas, talvez sem a sombra de um apoio que nunca veio. E Bolsonaro, perdido entre promessas e realidades, começa a perceber que, talvez, sua influência já não seja tão fundamental.
O amor não correspondido de Pablo Marçal
A trama envolvendo Bolsonaro e Marçal é uma digna de novela das nove. Marçal, empresário e influenciador digital, tentou repetidamente se aproximar de Bolsonaro. A primeira tentativa ocorreu em setembro de 2020, quando, com o apoio de Fábio Faria, então ministro das Comunicações, Marçal conseguiu uma reunião com o presidente. Foi só. Mesmo após lançar sua candidatura à presidência em 2022, Marçal continuou a buscar o apoio de Bolsonaro, mas suas investidas foram ignoradas ou rejeitadas.
Marçal tentou ainda construir uma relação com Bolsonaro via redes sociais, mas o distanciamento persistiu. Em um momento de frustração, chegou a acusar Bolsonaro de ter conhecimento de uma oferta de suborno para que desistisse de sua candidatura presidencial. A investida, contudo, além de não ser provada, apenas serviu para afastá-lo ainda mais do círculo bolsonarista.
A incógnita de Ricardo Nunes
Já Ricardo Nunes, que assumiu a Prefeitura de São Paulo após a morte de Bruno Covas, adota uma postura mais discreta. Vindo do MDB, partido que sempre soube navegar as águas da política, atrai eleitores de diferentes espectros. Mas essa mesma discrição é o que o também o torna desinteressante para Bolsonaro, que precisaria de um candidato capaz de mobilizar sua base mais fiel. Nunes e Bolsonaro tiveram um único encontro formal durante o mandato do ex-presidente, em julho de 2021, mais um exemplo da pouca afinidade orgânica entre os dois.
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