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Campeã em nº de cinemas, Barra Funda tem o trânsito mais letal de SP

Região aparece com melhores indicadores relativos à cultura, mas tem altos índices de mortalidade e acidentes de trânsito

Em 2017, foram registrados 82 acidentes de trânsito e sete óbitos na região da Barra Funda (Lara Deus/32xSP)
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Chaminés de fábricas dividem a vista com condomínios de apartamentos luxuosos. A paisagem complexa, que é vista por quem chega ao distrito da Barra Funda, pode dar uma pista da heterogeneidade que vive o local.

De acordo com o Mapa da Desigualdade 2018, divulgado pela Rede Nossa São Paulo no fim de novembro, a região tem o maior número de salas de cinemas por habitantes, mas também sofre com alta mortalidade no trânsito.

BOM ÍNDICE DE CULTURA

Localizada entre o centro e a zona oeste da cidade, a Barra Funda é o segundo distrito com menor população de São Paulo, perdendo apenas para Marsilac, no extremo sul da capital. Seus 15.562 habitantes contam com 13 salas de cinema e dois museus.

As 12 casas de shows ali situadas também ocupam a segunda colocação no indicador, atrás apenas do distrito boêmio de Pinheiros, também na zona oeste.

“Essa parte das casas de shows é legal. Tem muitos eventos, e é constante. Se você vai ao Espaço das Américas ou ao Memorial [da América Latina], sempre vai ter algum”, afirma a analista de vendas Thayanna Xavier.

Ela mora na parte do bairro próxima ao centro e não percebe mudanças no trânsito da região em decorrência dos grandes eventos.

PERIGO NO TRÂNSITO

A facilidade em chegar à pé ao trabalho, em Perdizes, foi um dos motivos que levou a técnica em enfermagem Telma Esteves, 51, a morar próximo à Barra Funda, no trecho ao centro. No entanto, ela acredita que seus vizinhos usem o carro como principal meio de transporte.

Apesar da baixa população residente, a Barra Funda é passagem dos bairros da periferia da zona oeste e norte, como Pirituba, Limão e Casa Verde, em direção ao centro de São Paulo.

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O distrito também abriga grandes vias, como a avenida Presidente Castelo Branco (via local da Marginal Tietê), a avenida Marquês de São Vicente e a avenida Doutor Abraão Ribeiro.

Quando comparado à população total, as sete mortes no trânsito que ocorreram em 2017 se destacam e garantem à região a primeira colocação no quesito. Quanto aos acidentes totais de trânsito, a região teve 82 deles registrados no ano de 2017, ante apenas 7 em 2013.

Durante o dia, o movimento de pedestres é baixo, mas à noite circulam aproximadamente 60 mil pessoas pela Barra Funda (Lara Deus/32xSP)

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Questionada, a Subprefeitura da Lapa ressaltou que o bairro é passagem para motoristas que chegam do interior, o que aumenta o fluxo de carros e a possibilidade de acidentes.

“À noite, chega a ter aproximadamente 60 mil pessoas circulando, com as casas noturnas Espaço das Américas, Villa Country, Allianz Parque, Áudio Danceteria, Memorial da América Latina e Universidade Nove de Julho. Durante o dia, existe também um grande movimento do Parque da Água Branca.”

MAIS CHANCES DE EMPREGO

Em comparação com sua população em idade ativa, a Barra Funda é o distrito de São Paulo que tem a maior taxa de postos de empregos formais: 59 para cada 10 habitantes. Lá, a chance de se conseguir um emprego formal é 246 vezes maior do que em Cidade Tiradentes, no extremo leste, que está em último lugar no ranking.

A especialista em desenvolvimento de pessoas Renata Fortes Itagyba, 32, é moradora da Lapa e, há cinco anos, frequenta o bairro devido ao seu trabalho. Ela percebe boas condições de infraestrutura para quem trabalha lá, mas avalia que a segurança deixa a desejar.

“Na empresa, por exemplo, quando as pessoas saiam após às 22h, havia vans ou Ubers para levá-las para a casa, pois não é um lugar que inspira confiança”, afirma.

De acordo com Julio Costa, 45, advogado e morador da região há 22 anos, o emprego é mais um dos fatores que marcam a desigualdade entre os moradores dos novos empreendimentos e as famílias que ocupam as pensões do local, na área mais próxima ao centro.

“Para esse pessoal do prédio, tem escola. Mas para o da pensão, não tem”, ressalta. No Mapa da Desigualdade, a Barra Funda aparece como um dos dois distritos que não têm nenhuma escola de educação infantil, junto a Alto de Pinheiros, na zona oeste.

TRANSFORMAÇÕES

Memorial da América Latina (Reprodução)

Atualmente, muitas fábricas que marcavam a vocação industrial do bairro no início do século passado estão desativadas. O pátio ferroviário deu lugar a um terminal da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e do Metrô, além de ônibus municipal e rodoviário intermunicipal.

O Largo da Banana, como era chamado o espaço onde se vendia a fruta aos trabalhadores próximo às fábricas, foi o local escolhido para sediar o Memorial da América Latina — museu de 84.482 metros quadrados projetados pelo mesmo arquiteto de Brasília, Oscar Niemeyer.

De acordo com a advogada Cida Martins, 57, o final dos anos 1990 marcou uma profunda transformação ao bairro, principalmente devido à instalação da Junta Comercial do Estado de São Paulo na região. Isso trouxe à Barra Funda estabelecimentos comerciais que não se viam.

No entanto, Cida considera que o bairro periga voltar a ser como era antes. “Quando mudamos, em 1996, vimos todas as portas fechadas e pichadas… Hoje parece que estamos retomando àquilo que era 20 anos atrás, justamente porque não temos a participação dos moradores da Barra Funda. São eles que fazem o bairro crescer”, lamenta.

Com o intuito de reverter o quadro, a advogada criou uma página no Facebook para divulgar o trabalho dos comerciantes locais. “Eu comecei a andar pelo bairro e olhar os lugares que estavam começando e divulgá-los, porque eu queria que a Barra Funda continuasse bem. Enquanto a Barra Funda estiver bem, eu estou bem”, finaliza.

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