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Na China, ‘Nova Economia do Projetamento’ surge em meio ao socialismo

Enquanto o mundo capitalista vive a financeirização, o socialismo chinês volta a disputar a vanguarda da revolução tecnológica

Na China, ‘Nova Economia do Projetamento’ surge em meio ao socialismo
Na China, ‘Nova Economia do Projetamento’ surge em meio ao socialismo
Xangai, um dos símbolos da China moderna e tecnológica. Foto: Wikimedia Commons.
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Por Elias Jabbour*

Xi Jinping em algum momento de 2018 deixou claro que a China deve inaugurar “novas formas de organização industrial” baseadas na “incorporação da internet, big data e a inteligência artificial à economia real”. Essa frase diz muito e até define o que tenho sintetizado como o surgimento na China de uma “Nova Economia do Projetamento”.

O século 20 foi marcado pela conquista humana de prever as regularidades do capitalismo e se antecipar a tais. Se a revolução social e seus planos quinquenais foram a solução encontrada por determinadas sociedades ante a fase recessiva do ciclo longo, outras encaminharam sua “economia da programação” no sentido de colocar em funcionamento – via gastos públicos – o Princípio da Demanda Efetiva.

A economia monetária moderna, ao lado da planificação soviética e dos mecanismos keynesianos – completava o trio que compunha a chamada, por Ignacio Rangel, Economia do Projetamento.

Atualmente, o mundo, e a China em particular, assistem a talvez uma nova revolução tecnológica que – apesar da hegemonia pós-moderna nas ciências sociais e humanas das “micronarrativas” – alçarão o processo de produção, distribuição e circulação de mercadorias a um outro patamar, fortalecendo a noção para quem o mundo nunca esteve com tantos elementos à sua disposição para alimentar “grandes narrativas”. Ao menos podemos elencar três grandes narrativas:

  1. Projetos nacionais de desenvolvimento;
  2. Socialismo;
  3. Novas e superiores formas de planificação econômica.

Enquanto o mundo capitalista está enredado na trama da financeirização, o socialismo (China) volta a disputar a vanguarda da revolução tecnológica com projetos como o Made in China e a mais de centena de bilhões de dólares na chamada inteligência artificial, plataforma 5G e no big data. Todos esses aparatos suportarão as já citadas, milhares de vezes, novas e superiores formas de planificação. Podemos dizer, assim, que um novo modo de produção está surgindo na China cujo nome científico indicamos de “Nova Economia do Projetamento”.

Trata-se da plena integração entre produção, distribuição, circulação, oferta, demanda e dados financeiros. Afora a rápida mudança na divisão social do trabalho com o encaminhamento planificado da fusão entre o campo e a cidade. Num país de 1,3 bilhão de pessoas a tendência é a produção daquilo que somente é necessário; resultado de uma planificação com “interesse social e ambiental”, com o fim do desperdício de matéria-prima, energia e trabalho.

O foco na economia real é o que diferenciará e oporá a Nova Economia do Projetamento à “instabilidade estável” da financeirização. A ciência de destaque do tempo presente e futuro é, e será, a ciência da planificação econômica. Essa ciência (misturada com arte) foi a maior conquista e criação humana desde o início de sua existência. Deverá ser tomada para si pelos humanistas e os marxistas de forma geral. A sua não apreensão é grave desvio intelectual e, mesmo, gasolina intelectual ao obscurantismo.

As implicações disso ao materialismo histórico deverão ser objeto de amplos e profundos estudos. Marx foi o maior pensador de todos os tempos. Incluindo o tempo que vivemos. O tempo da emergência de um novo modo de produção assentado em uma nova formação econômico-social.

*É professor adjunto da FCE/UERJ e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas (PPGCE) da UERJ. Autor do livro “China Hoje: Projeto Nacional, Desenvolvimento e Socialismo de Mercado” (Anita Garibaldi/EDUEPB, 2012)

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