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Um brinde ao SUS
O papel do nosso sistema de saúde na crise das bebidas contaminadas


Quem gosta de um drink sabe que o prazer de brindar vem acompanhado da confiança de que o que está no copo é seguro. Nos últimos dias, porém, essa confiança foi abalada pela contaminação de bebidas alcoólicas com metanol, um veneno perigoso cujo uso e cuja venda são controlados pelos órgãos competentes, mas que por algum motivo tem nos assombrado com cinco mortes e muitos casos de intoxicação confirmados, principalmente no estado de São Paulo.
Desde os primeiros casos, as ações vinculadas à nossa estratégica Agência Nacional de Vigilância Sanitária se ampliaram, inclusive com a Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância Sanitária, para definir o fluxo de coleta e envio de amostras suspeitas de contaminação a laboratórios públicos preparados.
Laboratórios são estruturas caras e, por vezes, pouco flexíveis nas suas rotinas de monitoramento de substâncias, mas estão respondendo ao tamanho do desafio. Viva o SUS! Esta é mais uma das funções, muitas vezes invisibilizadas, do nosso Sistema Único de Saúde, que protege a segurança das nossas bebidas e, consequentemente, a todos nós. Mesmo que você não consuma bebidas alcoólicas, certamente consome outros tipos de bebidas que também são controladas pelo SUS, inclusive a água que sai da sua torneira.
Por isso a importância de celebrar o SUS em tempos tão obscuros. Tempo em que o próprio governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, brincou com a situação, dizendo que só iria se preocupar a partir do momento em que a Coca-Cola estivesse contaminada, o que demonstra sua indiferença com a população. Não caiu bem, se retratou, mas já era tarde: mostrou mais um pouquinho da sua verdadeira composição. Uma composição que revela a proximidade com dois de seus aliados: o ex-presidente Jair Bolsonaro, que também desdenhou de mortes quando da alta de casos de Covid, chamando a doença de gripezinha e dizendo que não era coveiro, e claro, com Donald Trump.
Nos Estados Unidos, Trump colocou no comando da pasta da Saúde Robert F. Kennedy Jr., que vem contradizendo a ciência em inúmeras questões. E não é só isso: reduziu pela metade o orçamento do Centro de Controle de Doenças, órgão que tem funções similares à nossa Anvisa, diminuiu o número de trabalhadores do órgão e minou a sua capacidade de ação. Em um país que, mesmo sendo o mais rico do mundo, não tem um sistema público de saúde como o nosso.
Cuidar da saúde e das pessoas requer trabalhadores capacitados e recursos financeiros. Os laboratórios do SUS no Brasil só estão conseguindo examinar as bebidas porque o SUS é um patrimônio público que existe há 35 anos, mas é preciso ainda mais para continuar esse bom trabalho. É necessário que o nosso sistema tenha investimentos para manutenção e ampliação com a qualidade que merecemos.
Esperamos que esta crise do metanol seja superada em breve e manifestamos toda a solidariedade às pessoas e às famílias afetadas pelas intoxicações. Que nas próximas eleições esses fatos não sejam esquecidos e possamos escolher representantes que defendam o SUS. Precisamos de políticos engajados na defesa da vida nas suas diversas dimensões para que tenhamos um SUS forte e atuante.
Que o mau exemplo estadunidense não nos envenene.
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