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Smells like a business spirits

O New York Times chamou-me de o Lennon do Noroeste. Na real, eu fui, ao mesmo tempo, o Lennon e o Mark Chapman do Noroeste

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YEAH, YEAH (13x)

I LIKE IT I’M NOT GONNA CRACK

Ops, desculpe a gritaria. Gosto de alternar momentos hardcore com andamentos mais lentos. Mas o que vim fazer aqui mesmo? Ah, lembrei. Queria contar que descobri o que estava me provocando com uma sensação estranha e incômoda. Eu não sabia de onde vinha essa onda ruim. Até que deparei me com um artigo cujo título dizia “Startup: o novo rock n’roll”. É isso mesmo, pensei. Taí a explicação.

Para você que andou off-line, convém explicar que Startup não é o nome de uma banda do momento. Startup é como são chamadas as empresas recém-formadas, geralmente destinadas a atuar no mercado da Internet. O artigo constata que o bacana para a meninada não é mais formar uma banda. Legal mesmo é criar uma companhia com chances de ser o novo hit da web.

É curioso pensar nessa mudança. Ao invés de pular num palco, se drogar até cair, participar de orgias, mexer com multidões, a garotada de hoje preferem uma boa reunião com o investidor. Esses jovens sonham em ser os novos Mark Zuckenberg, Steve Jobs e Larry Pages. A fortuna de Paul McCartney é uma miséria para a ambição destes novos empresários.

Para chegarem lá, eles não pensam em usar roupas extravagantes ou desleixadas, nem penteados inusitados, letras desafiantes ou sons distorcidos. Nada disso. Todos estão atrás de uma ideia de aplicativo, de um tipo novo de e-commerce, de uma nova rede social. Algo que atinja, por baixo, um bilhão de pessoas e que, em poucos anos, posso abrir capital. O IPO é o Woodstock dessa turma. É o que eu chamo de geração Woodstock Exchange.

As letras cheias de angústias e desespero da era grunge, escritas na fria Seattle, foram substituídas pelo discurso otimista do mundo das inovações tecnológicas do ensolarado Vale do Silício. Onde uma nova era, de infinitas possibilidades, se amplifica a cada minuto. Se antes eu já sentia-me deslocado, imagina agora.

YEAH, YEAH (13x)

Era inevitável que o empreendedorismo digital virasse mais sedutor do que a carreira de rock star. Depois que incorporadoras do mercado imobiliário passaram a lançar condomínios de luxo com “garage band” – espaço para as bandas ensaiarem ou tocarem por simples prazer – ficou claro que a atitude rock não impressiona mais ninguém e muito menos causa conflito entre as gerações. Pelo contrário, pais roqueiros são os que estimulam os filhos a terem banda. A aula de guitarra virou a nova aula de natação.

Não creio que essa situação se reverta. Com a falta de distinção entre cultura e contracultura, que estímulo pode ter um jovem para subir ao palco e quebrar sua guitarra? Se o universo rock é apenas mais um mercado, melhor atuar direto naquele que é o mais promissor.

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Ops, desculpe a gritaria. Gosto de alternar momentos hardcore com andamentos mais lentos. Mas o que vim fazer aqui mesmo? Ah, lembrei. Queria contar que descobri o que estava me provocando com uma sensação estranha e incômoda. Eu não sabia de onde vinha essa onda ruim. Até que deparei me com um artigo cujo título dizia “Startup: o novo rock n’roll”. É isso mesmo, pensei. Taí a explicação.

Para você que andou off-line, convém explicar que Startup não é o nome de uma banda do momento. Startup é como são chamadas as empresas recém-formadas, geralmente destinadas a atuar no mercado da Internet. O artigo constata que o bacana para a meninada não é mais formar uma banda. Legal mesmo é criar uma companhia com chances de ser o novo hit da web.

É curioso pensar nessa mudança. Ao invés de pular num palco, se drogar até cair, participar de orgias, mexer com multidões, a garotada de hoje preferem uma boa reunião com o investidor. Esses jovens sonham em ser os novos Mark Zuckenberg, Steve Jobs e Larry Pages. A fortuna de Paul McCartney é uma miséria para a ambição destes novos empresários.

Para chegarem lá, eles não pensam em usar roupas extravagantes ou desleixadas, nem penteados inusitados, letras desafiantes ou sons distorcidos. Nada disso. Todos estão atrás de uma ideia de aplicativo, de um tipo novo de e-commerce, de uma nova rede social. Algo que atinja, por baixo, um bilhão de pessoas e que, em poucos anos, posso abrir capital. O IPO é o Woodstock dessa turma. É o que eu chamo de geração Woodstock Exchange.

As letras cheias de angústias e desespero da era grunge, escritas na fria Seattle, foram substituídas pelo discurso otimista do mundo das inovações tecnológicas do ensolarado Vale do Silício. Onde uma nova era, de infinitas possibilidades, se amplifica a cada minuto. Se antes eu já sentia-me deslocado, imagina agora.

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Era inevitável que o empreendedorismo digital virasse mais sedutor do que a carreira de rock star. Depois que incorporadoras do mercado imobiliário passaram a lançar condomínios de luxo com “garage band” – espaço para as bandas ensaiarem ou tocarem por simples prazer – ficou claro que a atitude rock não impressiona mais ninguém e muito menos causa conflito entre as gerações. Pelo contrário, pais roqueiros são os que estimulam os filhos a terem banda. A aula de guitarra virou a nova aula de natação.

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