Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Vítima do ódio, Moa do Katendê ganha tributos que lembram que é hora de mudança

Ativista da cultura negra foi morto há quatro anos em Salvador por intolerância política e, para homenageá-lo, são lançados discos e documentários

Foto: Kana Filmes/Divulgação
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Dezesseis dias após a morte de Moa do Katendê, um documentário sobre o mestre foi lançado com vários depoimentos e a trajetória do capoeirista, compositor, percussionista e ativista da cultura negra.

Moa do Katendê morreu, aos 63 anos, esfaqueado em um bar na região onde nasceu e viveu em Salvador depois de uma discussão política, iniciada quando o mestre declarou seu voto ao então candidato Fernando Haddad (PT) e criticou o adversário, o hoje presidente Jair Bolsonaro (PL), um dia depois do primeiro turno das eleições de 2018.

O clima tenso já tomava conta do País desde as manifestações de 2013, mas a morte do ativista negro foi um marco. Tanto que o documentário lançado há quatro anos tem o nome de Mestre Moa do Katendê: a primeira vítima, numa referência ao quadro inaugural crítico de ódio que assola o País.

Romualdo Rosário da Costa, o Mestre Moa, teve um papel relevante na cultura baiana. Nos anos 1970, foi um dos fundadores do bloco Badauê, contribuindo para o fortalecimento do movimento musical afro-baiano, fonte de criação e formação da maioria dos músicos da Bahia. O fato de ser um mestre de capoeira, compor, tocar percussão e possuir uma personalidade de agitador cultural o colocou no centro da importante cena musical afro-baiana.

Álbuns e filmes

Pouco antes de seu assassinato, Moa do Katendê preparava registro de suas composições predominantemente de ijexás. Moa partiu, mas o seu projeto foi em frente e um álbum foi lançado recentemente – já disponível nas plataformas de música – com o nome de Raiz Afro Mãe, que conta com participações de peso, como BaianaSystem, BNgão, Emicida, Criolo, Fabiana Cozza, GOG, Lazzo Matumbi, Luedji Luna, Letieres Leite, Rincon Sapiência, entre outros. 

A gravação ressalta a percussão que Moa tinha como referência musical. O trabalho teve a produção e arranjos de Rodrigo Ramos, que relata ainda num podcast sobre o desenvolvimento do projeto.

Um documentário de longa-metragem, dirigido por Gustavo McNair, também está sendo lançado e tem o mesmo nome do álbum. O filme deve entrar no circuito comercial no ano que vem e conta a história de Moa Katendê desde a década de 1970.

Há ainda um segundo álbum a ser lançado em tributo ao mestre. Trata-se de Moa vive!, com previsão de lançamento em novembro, com sete músicas do capoeirista-compositor nas vozes de Russo Passapusso, Margareth Menezes, Roberto Mendes, Mateus Aleluia Filho, Márcia Short, Aloísio Menezes, Sued Nunes e Gerônimo Santana, além de duas gravadas pelo próprio Moa. A produção é de Átila Santana.

O projeto do álbum Moa Vive!, contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural, inclui um minidocumentário de 20 minutos, com depoimentos de familiares e artistas. 

As iniciativas em homenagem a Moa do Katendê abrem uma nova etapa no cenário que levou o mestre à morte: a de divulgação de seu legado e a de necessidade de mudança urgente antes da banalização definitiva da violência política.

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