Taiguara dizia ter 45 músicas censuradas, mas sua biógrafa, Janes Rocha, conta cerca de 80. O fato é que ele foi o artista mais vetado pela ditadura, principalmente entre 1971 e 1973, quando negociou por várias vezes a liberação de suas canções.
O uruguaio que veio para o Brasil aos 4 anos de idade não foi só um artista combativo, crítico e inquieto, mas também um excelente cantor romântico. Ativo participante de festivais nos anos 1960, inseriu-se definitivamente na MPB após ser laureado e reconhecido em alguns deles.
O crítico e pesquisador de cinema Carlos Alberto Mattos fez um ótimo vídeo, chamado Taiguara – Onde Andará teu Sabiá?, em que reúne depoimento autobiográfico do artista ao jornalista paranaense Aramis Millarch, em 1984. O resultado final tem imagens de televisão, entrevistas, fotos e artigos da imprensa.
Mattos utilizou ainda cenas de filmes brasileiros em que Taiguara participou [até como protagonista]. É interessante observar que boa parte das músicas interpretadas pelo cantor é apresentada na íntegra no vídeo, sem o habitual corte – como canta bem e de forma envolvente, é um ponto forte do audiovisual.
A narrativa é feita de uma forma que o próprio cantor, compositor e pianista relata sua trajetória. O vídeo de pouco mais de 2 horas Onde Andará teu Sabiá? [trecho extraído de uma das composições mais engajadas de Taiguara] está gratuitamente disponível no Vimeo (aqui: https://vimeo.com/726331864) desde o dia 1º de dezembro.
Taiguara manteve-se defensor da música brasileira sem influência internacional – talvez aí tenha batido de frente com os grandes movimentos musicais da época, todos influenciados de alguma forma pelo rock e os Beatles.
Em 1973, Taiguara se exilou em Londres. Gravou em inglês, mas o disco foi proibido no Brasil. Chegou a morar na Tanzânia. Em 1978, voltou ao Brasil. Registrou trabalhos exaltando as culturas indígena e negra. Morreu em 1996 aos 50 anos de câncer.
Taiguara é um artista pouco lembrado, embora com uma obra marcante e instigante. O vídeo recém-lançado é um ótimo resgate.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login