Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Vicente Barreto resgata o forró pé de serra em disco com Alceu Valença, Zeca Baleiro e Chico César
O cantor e compositor lança o seu 13º álbum embalado por sanfona, zabumba e triângulo


Nascido em Conceição de Coité, Vicente Barreto foi aos três anos morar na vizinha Serrinha, na Bahia. À época, a feira de sábado não era só local para venda de mercadorias, mas oportunidade de apresentação de cantadores e trios de forró.
“A minha música é recheada dessa coisa do Jackson (do Pandeiro), dos seus ritmos, e muito da formação dos artistas daquela época que gravavam com triângulo, sanfona e zabumba. Isso ficou na minha cabeça”, lembra o músico.
No entanto, quando se mudou de Serrinha para o Rio de Janeiro, aos 20 anos, para iniciar a carreira como músico, gravou com bandas de diversas influências, distanciando-se do chamado forró pé de serra que o formou.
Agora, Vicente Barreto resgata suas raízes nordestinas com o lançamento de seu 13º álbum, intitulado Na Força e na Fé (Saravá Discos). “Todas essas memórias estavam comigo. Era como se tivesse obrigação de fazer esse disco por tudo que essa música me deu, que ouvi desde pequeno, sem saber que seria músico. Aquilo já me emocionava.”
O novo disco traz oito faixas inéditas, com músicas em parceria com Chico César, Zeca Baleiro (os dois também cantam no disco com Vicente Barreto em duas faixas), Renato Teixeira, Zeh Rocha e Soneka, e mais a regravação de Pelas Ruas que Andei, uma parceria de Vicente com Alceu Valença – a regravação no álbum conta com a participação de Alceu.
Aliás, Vicente e Alceu são autores de um dos maiores clássicos do cancioneiro brasileiro: Morena Tropicana, lançada em 1982. “As pessoas acham que fiz a canção na Bahia: naquele dia de calor, na beira do mar, peguei o violão, aquela cena poética.”
Vicente Barreto morava na movimentada e barulhenta rua paulistana Domingos de Morais quando tirou acordes no violão com som de xote. “Comecei por volta das 9h, e ao meio-dia a melodia estava pronta.”
Alceu Valença, em passagem por São Paulo, perguntou a Vicente se ele tinha “coisa nova”. “Falei que tinha, mas não acreditava muito nela. O Alceu pediu para eu ir no hotel dele. Quando cheguei lá e mostrei (a canção), ele falou: ‘Que coisa extraordinária, que melodia. Posso botar letra?”. Morena Tropicana virou um estrondoso sucesso nacional.
No mesmo dia em que fez Morena Tropicana, Vicente compôs Pelas Ruas que Andei, regravada em seu novo álbum.
Rafa Barreto, filho de Vicente, fez os arranjos e produziu o disco Na Força e na Fé. O trabalho conta com grandes instrumentistas do forró tradicional, como o sanfoneiro Mestrinho (que chega a cantar em uma faixa) e o zabumbeiro Guegué Medeiros.
Quando recebeu do filho o trabalho pronto para ouvir, teve uma forte emoção. Ao terminar a audição, Vicente estava em uma crise de choro. “Era o que eu tinha desejado fazer”, resume.
Assista à entrevista de Vicente Barreto a CartaCapital:
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