Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Tiganá Santana: Não há democracia sem considerar as questões raciais
Músico e filósofo lançou um álbum com o pianista cubano Omar Sosa com a temática afrocentrada


Para o baiano baiano Tiganá Santana, a relação com as manifestações culturais existenciais afro-brasileiras ou assentadas em matrizes africanas diz respeito ao Brasil profundo. O cantor, que também é compositor, instrumentista, produtor musical, filósofo e professor da UFBA, tem o seu trabalho centrado na diáspora africana.
“Eu venho disso, o fato de ser de Salvador, de ser uma cidade negra, sobretudo”, diz em entrevista a CartaCapital. Quando criança, lembra, Santana ia ao Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA com a sua mãe, que lá estudava quicongo. Ali, teve contato com uma língua africana. “Aquilo ficou registrado na minha cabeça”.
A relação com o candomblé de linhagem Congo-Angola e o Ilê Aiyê, o primeiro bloco afro do Brasil o qual sua mãe foi fundadora, o ajudou também para, tempos depois, estudar quicongo e quimbundo e apresentar o seu primeiro álbum, Maçalê (2009), em língua africana.
“As manifestações artísticas se utilizam do que a gente tem”, conta. “Algumas melodias e alguns assuntos vinham da relação com as línguas africanas que eu tinha contato”.
Depois vieram mais quatro discos e um último, lançado neste ano, com o exímio pianista cubano Omar Sosa. O titulo do trabalho é Iroko (Selo Sesc).
“Dentro de um inesgotável espectro de expressões musicais assentadas nas matrizes africanas – me refiro especificamente a África Subsaariana e depois na reconstrução afro-diaspóricas – tem muita possibilidade de som”, pontua. “O piano na afro-diáspora faz parte desses encontros e cruzamentos entre diversas sonoridades assentadas em matrizes africanas, sendo ressignificado com intenções musicais. Não é de se estranhar que haja a presença do piano na construção de um trabalho afro-diaspórico. Está ali entre o experimental, o poético, o imagético por meio dos sons, canção e temas afro-espirituais de Cuba e do Brasil”.
Na conversa, o filósofo ainda trata de racismo ao dizer que tem “vários tentáculos, que se reatualiza, vai vestindo outras roupas de acordo com o tempo histórico”.
“As pessoas negras não ocupam espaços de decisão neste país. As estruturas que definem os rumos são comprometidas sistemicamente com o fenótipo, dispositivo racial que foi engendrado lá atrás”, reforça. “Isso continua. Não é por serem pessoas progressistas que a questão do racismo está resolvida nelas. O que se defende como democracia não vai ser democracia se não considerar as questões raciais”.
Assista a entrevista de Tiganá Santana na íntegra:
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