Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Suricato faz reflexão sobre o sucesso em vídeo que explica fim de sua banda
O músico chegou a ganhar um Grammy com o grupo que leva o seu sobrenome; ele, no entanto, garantiu permanência no Barão Vermelho


Rodrigo Suricato entrou no Barão Vermelho em 2017 com a missão de substituir Roberto Frejat na voz e na guitarra. O músico conduzia desde 2012 uma banda que levava o seu sobrenome e que chegou a ganhar o Grammy Latino de melhor álbum de rock em 2015, além de outras indicações ao longo da existência do grupo – e até ano passado fez registros fonográficos.
Suricato levava os dois projetos em paralelo. Mas dias atrás jogou a toalha de um deles. Foi da banda que criou, a Suricato. Poderia ser um fim com um show e ponto final. No entanto, o músico resolveu fazer reflexões sobre a carreira de músico.
No Instagram disse se sentir aliviado com a decisão e fez alguns desabafos. “Amigos, estou desistindo da Suricato, a expressão artística da qual dediquei tantos anos e me proporcionou tantas coisas”, disse. “E também desligando os motores da minha relação atual com a música. Ela não é saudável”.
E continuou: “Simplesmente não há assentos disponíveis para a música que faço”. No post da rede social, diz que acordava e dormia todo dia pensando em possibilidades para que “projetos e sonhos se tornem viáveis numa cultura tão saturada e bizarra”.
O vocalista critica o tempo gasto fora da música: “Confesso que 80% do meu tempo é trabalhando uma onipresença digital publicitária e questões que nada tem a ver com a atividade que escolhi”. No mesmo post, garantiu continuar no Barão vermelho “por um tempo que não sei (nem pretendo) determinar agora”. E chamou o público para o último show da banda Suricato, no dia 12 de maio, na capital paulista.
Depois do post no Instagram, Rodrigo Suricato subiu um minidocumentário no canal da banda com o título O Processo é a Própria Arte – O Fim da Banda Suricato.
Segundo relata, o minidoc começou a ser gravado há 2 anos e ficou estacionasse até que entendesse o que ele representava.
No vídeo, entre legendas e imagens subliminares e da banda, Suricato comenta sobre a visão deturpada do sucesso: “Acho vital a gente começar a praticar um significado menos tóxico para essa palavra”. Mais à frente, questiona o motivo de os artistas ponderarem tão pouco sobre a profissão e a sua realidade.
Certo trecho, uma sequência de legendas manda a real sobre o que muitos músicos se ocupam (e passam) hoje: “Motivados pela corrida de views e likes”, “estímulo à produção de conteúdo sem sentido”, “além dos já conhecidos desafios de monetização”, “não somos memes”.
Cita ainda: “Saúde mental dos artistas e criadores não faz parte da agenda da indústria da música e tampouco é discutida entre seus pares”. E sentencia: “A existência de uma classe artística não passa de uma ilusão”.
O término do breve filme tem a seguinte legenda: “Independente da reverberação do seu trabalho, você existe”.
Assista o reflexivo e sensível minidocumentário sobre o fim da banda Suricato:
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