O primeiro single já lançado questiona o padrão social. O segundo tem o nome de Fogo nos Racistas. É nessa caminhada contundente que a Black Pantera, cujo nome da banda referencia os Panteras Negras, organização de defesa da comunidade negra nos EUA, apresenta seu terceiro álbum de estúdio.
“Tem muitas pessoas que seguem a gente e nem curte o estilo de música da banda, de metal, punk, mas gostam do que temos a dizer, do posicionamento político. Gosta quando falamos sobre o social, a violência policial”, afirma o baterista Rodrigo Augusto, um dos três integrantes do grupo.
O primeiro trabalho de estúdio do Black Pantera saiu em 2015. O segundo, em 2019. O terceiro, intitulado Ascensão, será lançado no dia 11 de março. Além de Rodrigo, integram a banda Charles Gama (voz e guitarra) e Chaene da Gama (baixo).
O grupo surgiu em Uberaba, no Triângulo Mineiro. “Aqui é muito sertanejo, é uma cidade que vive do agronegócio. A gente acaba nadando contra a corrente. A gente mesmo tem que fazer nossos eventos pra tocar. Tem poucos espaços e cada vez menos, porque fecharam lugares na pandemia”, afirma o baterista.
Bate-cabeça
As pessoas demoraram a entender o que o grupo buscava desde a criação. A banda também foi amadurecendo na exposição político-social – no início, não sabiam também como trabalhar com a temática.
“No começo, a galera queria bate-cabeça (termo usado no heavy metal que consiste em balançar a cabeça no ritmo do som pesado), com mais uma banda de punk, de garagem”, lembra Rodrigo.
“Mas quando a gente começou a tomar mais partido, principalmente contra o governo do Bolsonaro, a galera chegou e falou: ‘pô, era mais massa quando faziam hard core ali, não ficavam falando de política’”.
Segundo ele, a galera demorou a entender o som que faziam desde começo, com forte tom político-social: “Tudo é política. Ultimamente, o pessoal está conseguindo compreender o que a gente quer falar, e não só fazer bate-cabeça. Mas a gente segue nadando contra a corrente”.
O novo disco Ascensão (gravadora Deck) pega a essência do primeiro disco, com composições mais intuitivas, misturando rock pesado com músicas de protesto.
“A banda hoje está mais madura. A gente entende mais nosso lugar de fala, o poder que esse nome carrega”, avalia Rodrigo sobre o trabalho novo de 12 faixas. As composições de Ascenção foram produzidas pelos três membros do Black Pantera.
A capa do disco expressa o novo trabalho: uma foto de Victor Balde feita na província de Meconta, norte de Moçambique, que integra a coleção Lute como uma Moçambicana, com duas mulheres e uma criança.
“A gente quer dar cada vez mais voz, cada vez mais enaltecer o povo preto. Esse disco tem muito disso, de enaltecer o movimento negro”, ressalta Rodrigo. “A gente entende que a música não é somente para entreter. A gente quer também passar uma mensagem”.
A banda Black Pantera, embora ainda não seja frequente em apresentações nas grandes cidades brasileiras, já faz show no exterior desde 2016. Lá fora, por exemplo, o grupo já tocou no Afropunk Festival, realizado no Brooklyn em Nova York, e no Download Festival, que acontece em Leicestershire na Inglaterra.
O Black Pantera foi confirmado no palco Sunset no Rock in Rio no dia 2 de setembro, dedicado ao metal.
O disco Ascensão deverá ser lançado em Uberaba, em show gratuito, informa a banda.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login