Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Refazenda, disco que reposiciona Gilberto Gil na carreira, é tema de livro

O álbum faz parte da chamada trilogia ‘Re’ – junto com Refavela e Realce – e mostra um músico autônomo e reflexivo

Foto: Reprodução
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Gilberto Gil já havia lançado vários álbuns, ao vivo, coletivo e solo (inclusive o importante Expresso 2222), mas Refazenda tornou-se um marco porque inaugurou uma nova etapa do artista, mais independente, autônomo e com novas ideias e concepções diferentes do que havia feito até aquele momento. 

O músico tinha participado da experiência da Tropicália, passou três anos no exílio, reencontrou a Bahia e os baianos e deu início a uma fase mais reflexiva na sua discografia em meados dos anos 1970.

Refazenda: O Interior Floresce na Abertura da Fase “Re” de Gilberto Gil (Edições Sesc SP; 181 páginas), de Chris Fuscaldo, detalha o álbum, o que gerou após ele e breve biografia do baiano. A autora foi curadora do museu virtual O Ritmo de Gil, lançado ano passado pelo Google Arts & Culture em homenagem aos 80 anos do músico.

O disco Refazenda (1975) é o primeiro da chamada trilogia “Re” da discografia de Gilberto Gil – os outros dois são Refavela (1977) e Realce (1979). Há um álbum incluído por fora que é o ao vivo dividido com Rita Lee, o Refestança (1977) – feito depois de serem presos por porte de maconha em 1976 e lançado logo depois de Refavela, com músicas em parceria e já gravadas por ambos.

A autora destaca na obra Gilberto Gil mais autônomo no álbum, que revisita as origens do músico e trata também de sua renovação musical. Notadamente, o disco relembra as raízes nordestinas de Gil e está ligado à infância onde ele viveu no interior da Bahia – lugar que nem luz tinha.

Gil nasceu em Salvador, mas um mês depois se mudou para a pequena Ituaçu, no interior baiano, com o pai médico e a mãe professora atrás de emprego. Na vila, teve contato com o Nordeste profundo e a sanfona de Luiz Gonzaga, seu primeiro instrumento (depois é que se apegou ao violão), que aos 15 anos na capital baiana já o acompanhava em seus primeiros trabalhos como músico. 

Interessante observar a participação de Dominguinhos – discípulo de Luiz Gonzaga – no álbum. O músico tinha levado o acordeom para dentro da MPB e vinha se firmando naquela época. Dominguinhos mantinha relacionamento com Anastácia e Gil já havia gravado de ambos a clássica Eu Só Quero um Xodó em compacto (que hoje teria o nome de single). 

A participação de Dominguinhos transportou Gil de volta aos rincões do Nordeste. Nesse trabalho, o músico baiano já estava no controle do violão e da guitarra. 

No repertório do álbum (pela ordem; aquelas não indicadas são de autoria de Gil), Ela, Tenho Sede (Dominguinhos e Anastácia), Refazenda (“Abacateiro, acataremos teu ato/ Nós também somos do mato como o pato e o leão…”), Pai e Mãe, Jeca Total, Essa É pra Toca no Rádio – todas no lado A do disco de vinil -, Ê Povo É, Retiros Espirituais, O Rouxinol (Gil e Jorge Mautner), Lamento Sertanejo (Gil e Dominguinhos) e Meditação –todas do lado B.

Ressalta-se que os outros dois discos da trilogia “Re”, Refavela tem forte influência de sua passagem na Nigéria, onde ficou um mês em 1976, e as raízes africanas; e Realce é a explosão de estilo e contentamento. Chris Fuscaldo faz na obra um bom apontamento de uma das etapas da carreira desse grande artista brasileiro.

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