Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Rapper indígena convoca pela música o seu território à resistência

MC Anarandà também canta em guarani, como forma de preservação de sua língua materna

Rapper indígena convoca pela música o seu território à resistência
Rapper indígena convoca pela música o seu território à resistência
Foto: Eduardo Medeiros
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Feminicídio e Che Manchu mandu’ akuemi (em guarani) são duas canções recém-lançadas pela rapper indígena MC Anarandà que mostram bem a sua luta em defesa das comunidades tradicionais.

“O feminicídio não só acontece em território indígena, mas nas cidades”, diz a cantora e compositora a CartaCapital. “O tema traz um alerta a meninas e mulheres que mantêm um relacionamento tóxico com homens. Nos primeiros sinais, precisa saber o que fazer, que é denunciar.”

Ela crê que nesse rap há um “hino de resistência, um hino de educação” para as pessoas que estão no território indígena. “Em muitos lugares, mulheres indígenas não têm conhecimento de que existe uma lei que as protege.”

Anarandà conta que algumas de suas amigas próximas passaram por situações de risco. “Através dessa música, é disseminado que elas são importantes, que elas têm de valorizar a vida delas. A gente pode fazer antes que o pior aconteça.”

Já a música Che Manchu mandu’ akuemi retrata o descaso com os povos indígenas de seu estado: “Mostra o quanto nós, indígenas, sofremos com a devastação da floresta, com a contaminação de nossos rios”.

MC Anarandà nasceu na aldeia Guapoy, em Amambaí, Mato Grosso do Sul, quase na fronteira com o Paraguai. “O rap que eu canto é meu hino de resistência de meu povo”, resume.

Da etnia Guarani Kaiowá, a artista indígena canta as duas músicas em português e em sua língua materna.

“Eu aprendi o português aos 15 anos. E eu só cantava em guarani. O guarani nasceu comigo. Eu quis trazer através dessas rimas o fortalecimento da nossa língua materna. E para que a língua materna permaneça para as gerações futuras”, reflete. “Nos dias atuais, a gente vê a invasão cultural nos territórios, o racismo e o preconceito que chegam, adoecem os jovens e acabam querendo negar aquilo que eles são.”

A rapper diz ressaltar sempre que possível a preservação de sua língua materna. “A música em guarani tem sido um fortalecimento para mim. Fiquei muito feliz quando ela chegou na plataforma digital.”

Sobre o fato de ter escolhido o rap para se manifestar, afirmou ter se apaixonado no primeiro contato, por trazer histórias reais.

“Identifiquei-me muito com o rap, que é um instrumento para levar minha voz para pessoas que estão estudando sobre os povos indígenas”, avalia. “O rap traz essa forma de resistência.”

No final deste ano, MC Anarandà lançará o primeiro álbum com suas músicas, embora sua carreira de artista indígena tenha começado cedo.

Assista à entrevista de MC Anarandà a CartaCapital:

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