Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Percussionista Djalma Corrêa faz 80 anos com acervo pessoal disponível ao público

Músico fez uma série de experiências baseadas na percussão, agora apresentada em álbum, site e exposição

Djalma Correa. Foto: Rodrigo Lima

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Djalma Corrêa, que completou 80 anos no último dia 18 de novembro, tem serviços relevantes prestados a trabalhos essenciais da música brasileira. Um dos mais importantes deles foi a participação no espetáculo Doces Bárbaros (1976), com Gal Costa, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Mas em outra face, pouco conhecida, o percussionista fez valiosas pesquisas de sonoridades africanas e afro-diaspóricas.

O artista começou na música em Ouro Preto, onde nasceu, mas foi na passagem por Salvador que se aprofundou nos estudos tendo como matriz do trabalho a percussão.

O músico desenvolveu projetos experimentais com mestres dos Seminários Livres de Música da Universidade Federal da Bahia, como Walter Smetak, Hans Joachim Koellreutter, entre outros. A formação acadêmica, a carreira profissional e a vivência em terreiros na capital baiana tornaram Djalma um artista de imenso saber.

Os registros de áudio e vídeo de suas pesquisas e andanças formam um acervo incomum, que inclui instrumentos que ele próprio criou. Segundo o filho José Caetano, muito dos registros são de música instrumental, que é o diferencial do trabalho dele.

Caetano lembra que ele sempre falou de “levar a cozinha para a sala”, de colocar a percussão em lugar de destaque para buscar uma narrativa para além de um lugar no back stage. A cozinha é um termo usado no meio musical para designar a parte do grupo musical em que se posicionam os instrumentos percussivos, normalmente na parte de trás da banda. 

Tambor materno


Djalma atribui ao trauma do colonialismo o fato de a percussão não ter reconhecimento que deviaria no Brasil, já que o toque dos tambores foi essencial para a construção de uma música tipicamente nacional. 

“A percussão brasileira é bem definida exatamente pela marcação do tambor materno”, diz. Para ele, esse tambor primordial se junta a três eixos da nossa música: o povo nativo (indígenas), a herança europeia e a chegada africana que ressignifica a cultura deles no Brasil. 

Caetano sempre acompanhou o pai e está à frente hoje da organização de seu acervo. A antropóloga e pesquisadora musical Cecília de Mendonça é uma das mais próximas no auxílio aos projetos em torno de Djalma.

Dois discos solos de Djalma – Candomblé (1977), com diversos cantos de música ritual da nação ketu, e Baiafro (1978) – serão relançados em vinil, mas já estão disponíveis nas plataformas digitais.

No grupo percussivo Baiafro, criado por ele, Djalma exercitou todo o conhecimento adquirido, inclusive ao realizar releituras de música sacra afro-brasileira. 

Para o ano que vem, está previsto o lançamento pelo selo Lugar Alto um álbum duplo de gravações inéditas das experimentações de música eletrônica de Djalma, que foi um dos pilares de seus estudos e composição.

No seu site foi disponibilizada a Coleção das Culturas Populares e Religiões de Matriz Africana (registros de pesquisa da diversidade cultural brasileira), que é uma das seis coleções do acervo do artista que serão disponibilizadas ao público.

Já o Museu do Pontal, no Rio de Janeiro, inaugurou no dia 12 de novembro a exposição Djalma Corrêa – 80 Anos de Música e Pesquisa, que reúne fotografias e gravações do acervo do artista. Destaque da exposição é a participação de Djalma, acompanhando Gilberto Gil, no II Festival de Arte e Cultura Negra, em Lagos, na Nigéria, que contou com a presença de 56 nações africanas. A experiência foi registrada por ele em máquina de vídeo e gravador, como costumava fazer no Brasil. 

Djalma vive hoje no Rio, onde se estabeleceu no final da década de 1970. “É de importância capital a constituição desse material”, conta. O músico quer fazer com os projetos a promoção do diálogo de seu acervo com grupos populares, inclusive aqueles que foram objeto de seu trabalho ao longo de produtiva vida.

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