Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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‘Pequenas Impressões sobre o Caos’ de Breno Ruiz retrata a cidade em meio à angustia

A agonia do período pandêmico fez o músico se juntar ao compositor Roberto Didio para produzir um álbum inquieto

Foto: Divulgação
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Breno Ruiz morava no centro de São Paulo, na praça Princesa Isabel, onde a Cracolândia estava estabelecida naquele início de 2020, marcado também pelo começo da pandemia.

“Via um pedaço da contradição, assistindo o desamparo com os adictos e a violência do Estado e, ao mesmo tempo, de ter um espaço como a Sala São Paulo – a menos de duas quadras dali -, que eu frequento e que chamaria de alta cultura”, conta.

“Estávamos no meio de um governo que não amparava o cidadão e foi se transformando numa situação angustiante para mim”.

As perdas que ocorriam por conta da Covid-19 o assustavam e dois particularmente o abalaram: os regentes Naomi Munakata e Martinho Lutero. “Não os conheci pessoalmente, mas eles estavam perto de minha música de alguma forma, porque tenho formação erudita”, diz.

A gota d´água veio com a morte de Aldir Blanc (maio de 2020). Então, ele foi ao piano e fez a primeira canção do recém-lançado Pequenas Impressões sobre o Caos. A música, composta em parceria com o Roberto Didio, assim como todas as outras 12 faixas do álbum, tem o nome de Desacalanta e no disco é interpretada por Renato Braz: “A cidade calou, cantei/ A cidade chamou por nós/ Amanheceu deserta…”

Breno afirma que Didio tem um olhar, assim como o dele, muito crítico da realidade. “Vai ser o momento de mandar essa canção para ele”, conta sobre o início da parceria.

Entre as faixas do disco, a primeira Quase Nada retrata a vida de artista; a terceira, Semafórica, reportam às ruas de São Paulo, assim como a quarta, Campos Elísios, e a sétima, Camelódromo. A décima segunda faixa, Paus de Arara, tem tom político-social, assim como a última: A Tempestade.

“A gente (Breno Ruiz e Roberto Didio) trocava muita figurinha ao telefone e eu contava das situações que testemunhava, da situação dos arredores”, relata.

“Como qualquer centro urbano, São Paulo é uma metáfora do país. Essa cidade retratada no disco é uma grande metáfora, é uma cidade-país, com todas as suas contradições. O Didio é um compositor paulistano, que tem uma vivência da rua. E tem esse olhar observador muito atento e crítico”.

O álbum “tem uma camada no sentido de discutir coisas, retratar coisas”.

O trabalho conta com participação – além de Renato Braz – de Guinga, Cristóvão Bastos e Miguel Rabello (com quem já lançou um disco).

O disco Pequenas Impressões sobre o Caos tem como base Breno Ruiz no piano e João Camarero no violão. Com habilidade rara no violão, Camarero pôde traduzir ao álbum, junto com o piano, uma concepção sonora mais de orquestra de câmara.

“Pretendo criar condições para que esse disco seja o primeiro passo para outra realização, que é transformá-lo numa peça de teatro”, afirma Breno.

Breno Ruiz tem uma profícua parceria com um dos maiores compositores brasileiros, Paulo César Pinheiro. Desse encontro surgiu o primeiro álbum de Breno chamado Cantinelas Brasileiras (2016). Músicas dessa parceria também foram gravadas pelo Boca Livre, Monica Salmaso e MPB4.

Breno lançou nesse mês com a cantora Alice Passos novo disco de canções de sua parceria com Paulo César Pinheiro. O álbum saiu pela gravadora Biscoito Fino e tem a participação especial de Edu Lobo.

Assista à entrevista de Breno Ruiz a CartaCapital:

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