Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Paulinho da Viola abre turnê de 80 anos em SP e se alinha aos maiores da música

Sambista inicia show com composição inédita, mas impõe na sequência a grandeza de seu trabalho para um público respeitoso à sua impecável obra

Créditos: Patu Cortez

Apoie Siga-nos no

Diz-se que a afinação perfeita da caixa de fósforo é com 33 palitos. Não se sabe se Paulinho da Viola seguiu a regra, mas foi tocando o “instrumento” – e acompanhado só por ele – que o sambista abriu o show na casa de espetáculo Vibra, na capital paulista, neste sábado 4, dando início a turnê de comemoração de seus 80 anos – completados em novembro último.

A abertura com voz e caixa de fósforo é com a inédita Ele, que prometeu ao público registrar em disco em breve. A seguir, toca Samba Original, de Zé Keti e Elton Medeiros – aqui, Paulinho da Viola resgata o samba gravado com o segundo em álbum lançado em 1966 (dois anos antes de apresentar seu primeiro registro solo), que na capa tem a foto dele com o violão e Elton na caixa de fósforo; neste espetáculo de comemoração de 80 anos, Paulinho repete a formação clássica eternizada na capa, com ele no “instrumento percussivo” e o filho, João Rabello, no violão.

Depois, Paulinho pega o cavaco e o couro come com a banda. O sambista abre com Eu Canto Samba a lista de seus majestosos sambas apresentados, elevando a euforia de mais de 3 mil pessoas que lotavam a casa. 

Na próxima sequência de músicas, o antigo samba Nas Ondas da Noite, Onde a Dor Não Tem Razão, obra-prima assinada com Elton Medeiros, e Vela no Breu, composta com Sergio Natureza.

O próximo bloco de canções se inicia com um dos sambas favoritos de seu autor: Coisas do Mundo, Minha Nega. Após, Paulinho da Viola abre as portas no show à Portela, onde chegou nos anos 1960: Passado de Glória (Monarco) e Esta Melodia (Bubu). 

O sambista conta que ao pisar na escola, se deparou com esses dois sambas e se encantou. Paulinho segue cantando seus mestres e narrando ao público – com seu jeito sereno e elegante – a admiração por eles e como se deu o contato com a música ora apresentada.


Em Sei Lá, Mangueira, ele narra no show a melodia que fez para a letra de Hermínio Bello de Carvalho, com a preocupação a posteriori de um portelense ter gestado uma composição com um mangueirense com o samba dizendo “A Mangueira é tão grande/ que nem cabe explicação”.

A última música executada dessa série é Acontece, considerada por muitos como a mais bela canção de Cartola, que Paulinho gravou de forma inédita em 1972. No bloco seguinte, o samba-canção Nervos de Aço, de Lupicínio Rodrigues, faixa-título de álbum de mesmo nome que completa 50 anos em 2023 e lembrado em resenha publicada aqui (https://www.cartacapital.com.br/blogs/augusto-diniz/os-50-anos-de-nervos-de-aco-album-da-excelencia-musical-de-paulinho-da-viola/) na CartaCapital.

No mesmo bloco, a letra dramática e real com uma melodia em permanente suspense de uma das composições mais bem construídas da história da música brasileira: Sinal Fechado. Finalizando a série, a harmoniosa Dança da Solidão, de Paulinho e Hermínio Bello de Carvalho.

O samba sobe e vem o último bloco, sem Paulinho contar mais histórias ao público, mas com uma sequência da grandiosidade e diversidade composicional de Paulinho: Coração Imprudente (com o grande Capinan), Pecado Capital, Coração Leviano, Argumento, Bebadosamba – com direito a introdução emblemática do tamborim e o encerramento onde Paulinho “chama” e reverencia como uma prece os grandes sambistas de outrora – e Timoneiro (com Hermínio).

O bis é com Prisma Luminoso (com Capinan) e exaltação à Portela, que nasceu de um bloco há exatos 100 anos: Foi um Rio que Passou em Minha Vida. O show termina com um público respeitoso e enaltecedor à obra impecável do sambista.

Paulinho da Viola mostrou vitalidade aos 80 anos. Além do filho, compõe a banda Mário Sève (sopros), Dininho Silva (baixo), Adriano Souza (piano), Ricardo Costa (bateria), Celsinho Silva e Esguleba (percussão), todos já antigos companheiros do sambista.

Ele segue agora com a turnê para Vitória (25/3), Porto Alegre (15/4), Recife (19/5), Maceió (21/5), Rio de Janeiro (16 e 17/6), Curitiba (25/6), João Pessoa (12/8) e por aí vai. 

São oito décadas de originalidade e sabedoria. Paulinho da Viola se alinha a Caetano, Chico, Gil, Bethânia, Milton e alguns poucos artistas da música vivos e essenciais à arte brasileira.

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.