Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Aos 48 anos, Patricia Marx diz estar distante da imagem que a fez famosa nos anos 80

A cantora, que lança um trabalho com Wado cheio de referências, explica como o documentário ‘Democracia em Vertigem’ mudou seu olhar

Aos 48 anos, Patricia Marx diz estar distante da imagem que a fez famosa nos anos 80
Aos 48 anos, Patricia Marx diz estar distante da imagem que a fez famosa nos anos 80
Foto: Biga Pessoa
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Em um encontro musical com o experiente Wado, Patricia Marx lançou o trabalho Marxwado (Lab 344), com sete faixas reunindo um repertório diverso e bem cuidado. A cantora e compositora mostra personalidade com levada atual no novo projeto.

Ela diz que o encontro com Wado é de “vozes e texturas dos mesmos lugares”. Destaque para regravação de Me Deixa em Paz, obra-prima de Monsueto (com Aírton Amorim), que ganhou ares contemporâneos certeiros.

“Ele (Wado) transformou, transcreveu essas músicas para o momento atual. Arranjos muito modernos, contemporâneos. Quando recebi os arranjos dessas músicas fiquei meio surpresa. Estava esperando uma coisa mais tradicional. Mas eu gosto quando fico surpresa, porque são lugares em que nunca andei”, diz Patricia Marx. Ela enviou sugestão de roteiro do disco e recebeu de volta do catarinense radicado em Alagoas uma leitura arrojada de músicas inéditas e já gravadas.

Entre as releituras, além de Me Deixa em Paz, há Minha Voz, Minha Vida, de Caetano Veloso e gravada por Gal Costa, referência de voz de Patricia. Tem, ainda, a regravação de Melhor, música de Wado com Adriano Siri, além de Bom Parto, um xote inédito – também de Wado (com Fernando Coelho) – que remete à tragédia em Maceió devido à mineração, que provocou afundamento do solo.

Vozes Trans (Wado e Vitor Peixoto), primeira música que Wado apresentou a Patricia, fala sobre amor. “No começo não achava a música falando para o público LGBTQIA+, onde estou também. Tive essa leitura como um discurso de amor, de lugar de fala, de chamar a atenção a esse tipo de assunto. E ela tem, assim como o disco todo, um cunho político. Nos dias de hoje, o amor é político, é abrangente, é colaborativo”, afirma ela.

Completam o registro fonográfico a premiada Com a Ponta dos Dedos (Wado e Glauber Xavier) e a inédita Orvalho (Wado, Zeca Baleiro e Vitor Peixoto).

A Patricia Marx de 2023 está bem distante da imagem de 1980, quando começou a carreira no grupo infantil Trem da Alegria. “Hoje tenho outros discursos, outras propostas. E esse disco fala sobre essa Patricia de hoje.”

“Gosto de política. Comecei a estudar mais o assunto depois de quatro anos de Bolsonaro. Isso me fez aprofundar mais. Não é possível que uma coisa dessas está acontecendo e a gente não pode fazer nada”, diz ao relembrar os tempos bicudos do último governo.

“Confesso que tinha preconceito pelo Lula, muito por conta do que eu não sabia. Nunca acompanhei a política. Ia junto com a boiada – o que acontece na maior parte da população no Brasil. Fui atrás e vi o filme Democracia em Vertigem (de Petra Costa, 2019). Foi ali que entendi. Ele não é isso que as pessoas estão me dizendo. Eu tinha uma intuição de que algo estava errado, estava mal explicado”, prossegue. “Fui me posicionando. Fui taxada, xingada. Não arredei o pé. Me posicionei até o final, quando Lula ganhou.”

A cantora e compositora, com uma dezena de álbuns lançados, vive momento tão diferente que o olhar se tornou oposto ao que rege o mercado fonográfico – e que ela conheceu bem: “Não é um disco que vamos vender, vamos fazer uma estratégia de marketing – me dá tanta preguiça… Já passei tanto por isso… Não quero mais. Quero coisas que sejam verdadeiras, da alma, mesmo. E o Wado é um grande artista nesse sentido”.

Patricia Marx planeja retomar o antigo sonho de estudar. Vai entrar na faculdade de psicologia e continuar com psicanálise.

Assista à entrevista de Patricia Marx a CartaCapital na íntegra:

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