É difícil escolher entre as 10 faixas do novo álbum de Criolo a mais inquieta e impactante. Mas Sétimo Templário é a que sintetiza o contundente disco Sobre Viver.
“Desabafo gigantesco, um grito de socorro. A gente está respirando, mas está muito difícil. A gente não quer só respirar, a gente quer sorrir, se abraçar”, diz Criolo a CartaCapital. A faixa central do disco expressa a necropolítica e relata onde chegamos.
“E a cada banho de sangue/ Um banho de desesperança/ E a cada bala vendida/ Um corpo que vai pra lama/ Mata a minha sede/ Refresca minha lembrança/ Um presidente que diz plau depois pergunta: Isso é matança?”, diz trecho da letra Sétimo Templário. Em tempo: “plau” é som de tiro no rap.
As músicas do álbum são de Criolo e a produção é da excelente dupla Zegon e Laudz, do Tropkillaz. “O disco é uma continuidade de uma história que iniciou muito anos atrás, em 1987, começando a escrever rap e deságua em 2022”, conta.
As canções Diário do Kaos, que abre o disco, Pretos Ganhando Dinheiro Incomoda Demais (o título é autoexplicativo) e Moleques São Meninos, Crianças São Também expressam a sociedade injusta e racista.
“Todo preconceito leva ao óbito. Não é exagero. As pessoas são assassinadas pela cor de sua pele, pela luta de manter viva sua cultura e origem – aí falando diretamente dos povos originários que estão sendo dizimados. E a comunidade queer que sofre insegurança absurda”, afirma.
O trabalho também tem espaço para fé nas canções Ogum Ogum e Yemanjá chegou. “A fé do povo brasileiro é que sustenta isso tudo. A fé te faz chegar ao outro dia”, diz.
“Pequenina” é uma música autobiográfica do álbum e referencia a irmã de Criolo. Sua mãe, Maria Vilani, lê frases da canção, que conta com a participação de MC Hariel, Liniker e o maestro Jaques Morelenbaum.
A música remete ao período em que vivia com grande dificuldade num barraco no Jardim das Imbuias, no Grajaú, na zona sul de São Paulo.
“Minha mãe comentou comigo (naquela época) o quanto ela queria ter uma filha mulher”, relata emocionado. Criolo guardou a declaração até hoje. Cleane, irmã de Criolo, morreu ano passado aos 39 anos vítima da Covid-19.
“Estamos passando o pior momento do País. É tudo muito terrível”, diz. O álbum Sobre Viver conta ainda com as participações da cabo-verdiana Mayra Andrade e Milton Nascimento.
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