Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Os 90 anos do nascimento de Candeia, defensor ferrenho da tradição afro-brasileira

O sambista está ao lado dos maiores da história e teria ido muito além se não tivesse morrido aos 43 anos

Os 90 anos do nascimento de Candeia, defensor ferrenho da tradição afro-brasileira
Os 90 anos do nascimento de Candeia, defensor ferrenho da tradição afro-brasileira
Foto: Divulgação
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Antonio Candeia Filho, o Candeia, nasceu em 1935, mas morreu com apenas 43 anos, vítima de uma infecção renal, após viver mais de uma década em uma cadeira de rodas por levar cinco tiros em um acidente de trânsito.

O sambista, em seu pouco tempo de vida, deixou uma obra impressionante de excelentes músicas, de partido-alto e sambas de roda a sambas-enredo, sambas de quadra e tradicionais. Elas são até hoje gravadas e muito executadas em rodas de samba.

Além disso, era defensor ferrenho das tradições afro-brasileiras e crítico da industrialização do Carnaval. O sambista é exemplo de engajamento e defesa das raízes da cultura brasileira. O incidente que o levou a uma cadeira de rodas e o afastou da profissão de policial transformou agudamente sua maneira de agir e pensar.

Candeia se tornou aos poucos uma liderança no samba, com questionamentos e reflexões sobre a formação negra do País. Passou a representar a alma do samba, com profunda inserção no meio, e foi associado ao gênero no nível que só Cartola e Nelson Cavaquinho alcançaram.

A fundação liderada por ele, em dezembro de 1975, do Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo como espaço de resistência do Carnaval foi um dos grandes sinais de alerta do que acontecia com a festa popular.

O sambista lançou cinco discos solos e vários outros em grupo. Dentre suas composições inesquecíveis estão o samba de amor Expressão do Teu Olhar e Vem Amenizar (com Waldir 59); o samba praiano espetacular O Mar Serenou, sucesso na voz de Clara Nunes; o samba de roda Olha o Samba, Sinhá; e a sentimental Pintura Sem Arte.

Há também O Amor Não é Brinquedo (com Martinho da Vila), Minhas Madrugadas (com Paulinho da Viola) e o samba de quadra Portela é Uma Família Reunida (com Monarco). Candeia, antes de fundar a escola de samba Quilombo, foi extremamente ligado à Portela e a seus compositores, no auge da produção musical entre seus membros, inclusive na realização de sambas-enredo vencedores.

Candeia também é autor de sambas como Gamação, Peixe Granfino (com Bretas), Ouço uma Voz (com Nelson Amorim) e o emblemático partido-alto Testamento de Partideiro. Em Filosofia do Samba, inesquecível gravação de Paulinho da Viola, há uma exaltação ao samba.

A obra-prima Preciso me Encontrar, gravada por Cartola, tem um registro exuberante do cantor Zé Luiz Mazziotti, com um piano predominante, ressaltando a dramaticidade imposta por Candeia à canção.

É ainda de sua autoria De Qualquer Maneira, Me Alucina (com Wilson Moreira), Luz da Inspiração e por aí vai. Candeia é sensacional e inesquecível e deve ser lembrado sempre.

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