Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

O que faz do 3º álbum de Ana Frango Elétrico o melhor de 2023

A sonoridade é para cima, explorando referências musicais antigas e atuais, com uma levada arrebatadora. Um grande disco, do começo ao fim

Foto: Hick Duarte

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O álbum Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua não escapou de quase nenhuma lista como o melhor de 2023. A última conquista saiu nesta semana e veio da prestigiada Associação Paulista dos Críticos de Artes, a APCA.

A autora do álbum é a carioca Ana Faria Fainguelernt, conhecida como Ana Frango Elétrico, de 26 anos. Em seu terceiro álbum, a cantora e compositora fez um trabalho despojado, com letras em inglês e português e concepção muito própria e livre, mas direta.

A sonoridade é para cima, explorando referências musicais antigas e atuais, com uma levada arrebatadora. A voz da cantora soa despretensiosa, para composições existenciais. É um grande disco, do começo ao fim.

O fato de o álbum lembrar de cara os arranjos dos anos 1970 e 80 leva a uma ideia fixa de que aquele período foi a base da construção desse projeto musical.

“Muitas referências vêm daquela época e também de muita coisa nova, com muita qualidade. Não tem a ver só com essa época. As influências vêm de muitos lugares – inclusive, o disco tem referências dos anos 1950, 90 e atuais”, conta Ana Frango Elétrico em entrevista a CartaCapital.

Ela atribui ao acesso à internet na adolescência o fato de ouvir e buscar como referência músicas de várias épocas.


No álbum de dez faixas Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, Ana não só canta e mostra suas composições (seis no disco são suas), mas produz e aparece sempre com os sintetizadores e seus efeitos às mãos.

Por perto, tem Dora Morelenbaum (da banda Bala Desejo) nos arranjos de cordas e fazendo backing vocal, Marlon Sette no trombone e nos arranjos de metais, Alberto Continentino (da banda de Caetano Veloso) no baixo, o cascudo Marcelo Costa na percussão, o acurado Sérgio Machado na bateria, entre outros.

Ana Frango Elétrico vê multiplicidade na banda do disco, “referências estéticas e musicais distintas e pessoais, uma certa confusão, que acho bonita”.

A cantora conta que seu processo de composição passou por mudanças. “Já foi muito através de poesia e paisagens. Hoje em dia, tento ir atrás de uma certa referência, de canção ou de produção musical.”

“Às vezes, a ideia é ir atrás de uma canção mais clássica, como o caso de Insista em Mim (sétima faixa do álbum). Mas às vezes tem a ver com alguma desconstrução.”

Sobre esse seu premiado álbum – o segundo, Little Electric Chicken Heart, já havia causado impacto -, ela diz se ver “longe de um ponto de chegada, no sentido de que tem muita técnica e conhecimento para aprender”.

“Nesse disco tive um pouco mais de maturidade e conhecimento para chegar em lugares que estava querendo e imaginando”, avalia. “E acho que é o meu disco que mais fala do que ouvi e ouço.”

Ela espera “melhorar e ter condições de apresentar evoluções” nos próximos trabalhos. Anote aí, porque Ana Frango Elétrico vai longe.

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