Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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‘O compositor está em extinção’, diz Nico Rezende sobre a era do streaming

Um dos artistas mais prolíficos dos anos 1980, o cantor e compositor lança novo álbum e regrava o clássico ‘Esquece e Vem’

‘O compositor está em extinção’, diz Nico Rezende sobre a era do streaming
‘O compositor está em extinção’, diz Nico Rezende sobre a era do streaming
O compositor Nico Rezende (Foto: Divulgação)
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O paulistano Nico Rezende chegou ao Rio de Janeiro em 1982 para tocar teclados na banda de Ritchie, que estouraria com “Menina Veneno”. Pouco depois, passou a integrar a banda de Lulu Santos.

Na mesma época, fez os arranjos para o clássico álbum Fullgás (1984), de Marina Lima, produziu o primeiro álbum solo de Cazuza, Exagerado (1985), e trabalhou em três discos de Roberto Carlos.

Conseguiu emplacar três músicas de sua autoria, compostas com Paulinho Lima, nas paradas de sucesso: “Perigo”, na voz de Zizi Possi; “Transas”, interpretada por Ritchie; e “Esquece e Vem”, gravada por ele mesmo em seu primeiro álbum autoral, Nico Rezende (1987). Antes disso, havia lançado apenas um compacto simples em 1984.

“Essa canção surgiu em uma sessão de gravação com Lulu Santos [com quem tocava na época]. Cheguei cedo ao estúdio, sentei ao piano e a melodia veio. Pedi à assistente para gravar, para não esquecer. Mostrei para o Paulinho Lima, criamos a letra – ele fez a maior parte – e gravei”, lembra Nico.

Ele conta que sua vida mudou em um fim de semana, graças à música, que foi tema da novela O Outro, da TV Globo. “Lembro que todas as rádios estavam tocando ‘Esquece e Vem'”, relembra.

Em um único fim de semana, Nico se apresentou em três programas de grande audiência na Globo com a canção: Globo de Ouro, Cassino do Chacrinha e Fantástico. “Na segunda-feira, eu estava famoso”, diz, rindo.

Agora, “Esquece e Vem” foi regravada no décimo álbum autoral de Nico Rezende, recém-lançado. Segundo ele, a nova versão foi feita “em clima de luau, como roda de amigos”, com participação da cantora Ive.

O disco, intitulado Primeira Vez, é, segundo o artista, “bem solar”. A faixa-título marca sua primeira parceria com Nelson Motta e conta com a participação de Isabella Taviani.

O álbum também traz parcerias de Nico com Roberta Campos (que também canta no disco), Dudu Falcão, Jorge Vercillo, entre outros. Uma das canções, “Melodia Sem Final”, foi composta para Roberto Carlos. “Fiz há muitos anos, na época do falecimento de Maria Rita (ex-esposa de Roberto). Lembro que estava em um bar, peguei um pedaço de papel e escrevi a música”, conta.

“Mandei para o Roberto, mas ele nunca gravou. Talvez fosse uma questão emocional muito forte para ele”, reflete.

Nico define o disco como “denso” em termos de composição, com arranjos refinados, fluidez nas canções e instrumentação cuidadosa. Ele destaca a importância de produzir um álbum completo, com várias faixas que proporcionam uma “audição completa”, dando sentido ao projeto.

“Quando eu comecei a ouvir música, pegava o vinil, via quem fazia, a ficha técnica. A capa e a contracapa faziam parte do disco. Era uma imersão no universo do artista, sentíamos as várias nuances. O álbum facilita esse processo hipnótico. Você se torna mais íntimo do artista”, afirma.

Para Nico, atualmente vivemos a era das “amostras”, com a enxurrada de singles. “Muita gente faz o disco em casa. Tem aplicativo para gravar a música no celular e já lançar na internet. Estamos vivendo em um mar de lançamentos”, explica.

Ele reconhece que o método de produção e divulgação mudou completamente na era dos streamings, em alguns aspectos para melhor. “Todo mundo pode fazer seu álbum ou single, acho isso muito democrático”, comenta.

No entanto, ele alerta para o excesso de lançamentos. “Precisamos ter a consciência e o tempo para fazer uma triagem nesse mar de lançamentos. Ao mesmo tempo, há a dificuldade de consolidar alguns trabalhos, porque há muita coisa boa e muita coisa ruim”, pondera.

Nico também critica a desvalorização do compositor na era do streaming. “O autor passou a ser mal remunerado. A figura do compositor está em extinção. Só ganha algum dinheiro quem sobe no palco”, conclui.

Assista à entrevista com Nico Rezende:

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