Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
O boi-bumbá da Ilha de Marajó de Mestre Damasceno cai no samba
Artista popular marajoara lançou álbum neste ano e a escola Paraíso do Tuiuti integrou a sua história ao enredo do carnaval 2023
Damasceno nasceu no município de Salvaterra, na Ilha de Marajó. Ficou cego aos 19 anos em decorrência de um acidente de trabalho. Passou a compor, gravou um álbum e tornou-se mestre. O artista popular tinha tradição de colocar o boi-bumbá na rua e, como o búfalo é o animal-símbolo marajoara, trocou o desfile que promovia na vila em que vive para búfalo-bumba.
O enredo Mogangueiro da Cara Preta, que a escola de samba Paraíso do Tuiuti levará à avenida no carnaval 2023 do grupo especial do Rio de Janeiro, referencia a Ilha de Marajó.
Em trecho da sinopse dos carnavalescos Rosa Magalhães e João Vitor Araújo da Tuiuti, há a citação do artista popular: “Aproveitando as influências de festas nortistas, Mestre Damasceno, grande artista popular marajoara, criou um ‘Búfalo–Bumbá’, uma adaptação do Auto do Boi, tendo como figura central o búfalo”.
O documentário Mestre Damasceno: o Resplendor da Resistência Marajoara, de Guto Nunes, lançado há alguns anos, retrata bem o papel do artista na sua cidade e a importância da transmissão do saber oral.
Mestre Damasceno, pescador, repentista, compositor de sambas, toadas, carimbos e xotes, é um afro-indígena. Em Salvaterra, arrasta o povo com seu búfalo-bumba. As toadas do boi na rua têm a participação de crianças, que se envolvem interagindo com as histórias associadas à tradição.
Neste ano, Mestre Damasceno e o grupo Nativos Marajoara lançaram o álbum Encontro D’Agua, com o apoio da Lei Aldir Blanc. O disco tem a participação da cantora Dona Onete na faixa que abre o trabalho, Feira do Veropa.
O disco, disponível nas plataformas digitais de música, tem 11 faixas do carimbó marajoara, retratando a natureza e as paisagens e o ambiente locais. No registro, o som dos curimbós (tambor), violão e banjo, sopros e maracas (chocalho indígena). Mestre Damasceno é a arte popular na sua essência.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.



