Novo álbum dos Titãs traz o rock crítico em meio ao caos

A banda Titãs, que completa 40 anos de estrada, poderia ter lançado um disco com os grandes sucessos, mas optou por um álbum de crítica aos tempos atuais com canções jovemguardistas, que marcam a trajetória do grupo.

O trabalho recém-lançado tem o nome de Olho Furta-Cor e conta com 14 faixas. “Como todos os nossos discos, é uma crônica do nosso tempo”, diz Tony Bellotto sobre o novo álbum. A produção é de Rick Bonadio e Sérgio Fouad.

O título Olho Furta-Cor foi tirado de um poema de Haroldo de Campos chamado São Paulo. Dois trechos do texto foram musicados e transformados em duas canções no disco. 

“A gente nunca falou explicitamente de São Paulo sendo uma banda identificada com São Paulo”, conta Britto. “O tom que o Haroldo de Campos usa para falar da cidade a gente se identifica completamente”. Na canção São Paulo 3, “o lado mais onírico, quase lisérgico”, e na São Paulo 1, “o lado mais bruto, nervoso” da cidade. 

O álbum abre com duas músicas em tom indignado. Apocalipse Só, de Tony Bellotto e Sérgio Britto, conta com coral de crianças do Instituto Anelo e inserções de um canto indígena do Xingu. A faixa Caos e de Rita Lee, Roberto Carvalho e Beto Lee (que é guitarrista, músico de apoio da banda Titãs e filho de Rita Lee e Roberto de Carvalho). 

“O canto indígena do Xingu foi o que inspirou a música. E falar dos indígenas remete à questão da devastação da floresta, dos povos e da própria cultura. Então, tivemos a ideia do apocalipse, de destruição”, acrescenta Bellotto. “O uso de vozes de criança “dá um pouco de esperança e ressalta o aspecto desolador da música”. 

Sobre Caos, Sérgio Britto conta que “é uma música atual, que fala do momento que a gente vive, como só a Rita Lee sabe fazer, com bom humor, sarcasmo, mas que também faz uma crítica dura a tudo isso que a gente vem vivendo, este momento de caos, de instabilidade”. 

Já Como é Bom ser Simples (Branco Mello, Bento Mello e Hugo Possolo) trata de desapego. “Vai desgovernar a puta que pariu (trecho da canção), mas ao mesmo tempo como é bom ser simples tenta desvincular dessas ameaçadas todas, desses transtornos que nos cercam, de instabilidade política, de pandemia, sendo zen, sem deixar de colocar o dedo na ferida”, afirma Bellotto.

Branco Mello enfrentava um tumor na garganta que impossibilitou gravar voz no disco. Com isso, foram utilizadas gravações de ensaio e de demo da voz do músico na canção. 

Outro destaque no disco novo do Titãs é Por Galletas, de Sérgio Britto, interpretada por ele em espanhol. O tema é sobre abuso de crianças por soldados da missão de paz da ONU no Haiti. O Brasil tinha o maior contingente de militares nessa missão. 

“Esse paradoxo é chocante. Aquela instituição que está ali para ajudar causa o maior mal”, declara Britto. “É uma canção muito amarga, muito dura. É algo tão chocante que merecia uma canção”. 

Assista a entrevista de Tony Bellotto e Sérgio Britto a CartaCapital: