Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Mesmo sem interesse das pessoas, faço questão de lançar músicas inéditas, diz Arnaldo Brandão
O cantor, compositor e baixista já tocou com Gal Costa e Caetano Veloso, compôs sucessos dos anos 80 e agora trabalha em novo disco de inéditas


Arnaldo Brandão participava de uma banda de rock no final dos anos 1960 chamada The Bubbles. Jards Macalé, que à época trabalhava na produção musical de Gal Gosta, convidou o grupo a acompanhá-la.
“Aprendi muito tocando com Macalé, ouvindo aquelas fitas cassete que o (Gilberto) Gil e o Caetano (Veloso) mandavam (do exílio) para a casa dele”, lembra Arnaldo. “A casa dele era uma república independente. Estávamos no auge da ditadura, barra pesadíssima, mas a gente se divertiu muito.”
O músico tentava dar os primeiros passos na carreira, mas a ditadura militar o incomodava. Ele chegou a ter uma composição censurada no disco do cantor Leno, produzido por Raul Seixas. A faixa abordava de reforma agrária a drogas.
“Na época, tinha cabelo grande, fumava, tomava ácido. A repressão era grande. Para a esquerda, eu era um alienado; para a direita, um comunista.”
Resolveu se mudar para Londres, em uma espécie de autoexílio. Lá, conheceu Mick Taylor, então guitarrista dos Rolling Stones, de quem se tornou amigo e com quem foi morar.
“Fui lá para fora para estudar mais música e escapar da repressão, para que pudesse ter mais liberdade comportamental, ter uma vida socialmente mais agradável. Eu queria aprender”, resume. “Estudei com professor particular música clássica, apesar de viver no mundo do rock and roll.”
Nas andanças pela música, tornou-se muito amigo de Caetano Veloso, com quem passou a tocar em sua banda. O baiano tinha dado até um nome ao grupo com Arnaldo que o acompanhava: A Outra Banda da Terra.
Arnaldo gravou a clássica Odara, de Caetano, com o marcante solo de baixo, registrada no álbum Bicho (1977). Naqueles anos, o baixista já acompanhava Raul Seixas, Luiz Melodia e Jorge Mautner.
“Tive sorte de trabalhar com ele (Caetano). Gravamos vários discos. Foi um aprendizado gigantesco, não só musical, mas social, filosófico, estrutural”, avalia.
Nos anos 1980, entrou na ascensão do pop rock nacional, participando da banda Brylho, com Claudio Zoli. Em 1985, montou o grupo Hanói-Hanói, que durou 10 anos.
Naquela ocasião, Arnaldo Brandão compôs alguns sucessos, como Noite do Prazer, com Cláudio Zoli e Paulo Zdan; Totalmente Demais, com Tavinho Paes e Robério Rafael; Rádio Blá, com Lobão; e O Tempo Não Para, com Cazuza.
À época da criação do Hanói-Hanói, começou a fazer música com o poeta Tavinho Paes — que morreu, aos 69 anos, três dias depois desta entrevista com Arnaldo Brandão, após complicações de um infarto sofrido em setembro. O nome da banda Hanói-Hanói foi, inclusive, uma ideia de Tavinho.
O baixista avalia que aquela geração do pop rock dos anos 1980 acolheu uma demanda reprimida do gênero. Depois, porém, o movimento minguou.
“O sistema capitalista precisa de novidade. Então, teve aquela maré alta (do rock brasileiro), mas as pessoas ficaram de saco cheio”, afirma. Arnaldo Brandão agora lança um single com Leoni, que participou também da geração do pop rock. A canção se chama O Amor e Seus Desvios.
A música, a primeira parceria deles, reflete o amor não como na “propaganda de margarina”, mas na “beira do desespero”. Ela contou com arranjo de Antônio Leoni, filho de Leoni. Os dois dividem o vocal.
Arnaldo tem quatro álbuns solos lançados —Brandão e o Plano D (2001), Ao Vivo (2005), Amnésia Programada (2010) e Brandão Psicopop (2020) — e mais um quase pronto para sair nas plataformas de música. É um novo trabalho de inéditas.
“Só falta colocar voz e mixar. As pessoas não estão muito interessadas em conhecer músicas inéditas, mas sempre faço questão de lançar”, emenda.
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