Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
‘Mercado é regido por likes, views e número de seguidores’, diz o cantor Carlos Navas
O intérprete fala da carreira e de projetos novos, como releituras de Gal Costa, Renato Russo e canções infantis


Carlos Navas estreou na música nos bastidores, em 1986, como divulgador. Depois virou produtor de nomes como Tetê Espíndola e Alaíde Costa. As participações esparsas em shows o levaram, em 1996, ao espetáculo Canções e Momentos, que destacou sua habilidade vocal. No ano seguinte, veio o primeiro álbum, Pouco pra Mim (1997). De lá para cá, lançou outros dez discos e consolidou uma trajetória marcada pela versatilidade.
O mais recente, All of You – Canções de Cole Porter em Voz e Piano (2022), é seu primeiro trabalho todo em inglês, com Jonas Dantas ao piano. “É uma daquelas obras — assim como outras às quais venho me dedicando — que sempre esteve em mim. Cole Porter é um dos maiores compositores do mundo”, diz.
Antes, Navas já havia mergulhado nos repertórios de Mário Reis e Custódio Mesquita, experiências que viraram discos. “A memória é um dos alicerces da minha carreira”, afirma. Para ele, o aprofundamento em artistas do passado é exercício obrigatório do intérprete. “O repertório é a espinha dorsal do intérprete. Não adianta ter uma supervoz se não houver um diálogo muito sincero com aquilo que se vai cantar. Primeiro, sinto como aquilo me toca; depois, penso em como vou dizer isso ao outro.”
Esse legado, diz, atravessa a criação musical contemporânea. “Mesmo quando não se sabe exatamente quem são os referenciais, eles estão ali. É o legado que dá continuidade à história da música.”
Além de cantor, Navas é psicanalista — formação que alimenta um olhar crítico sobre o meio em que circula. “Acho importante desmistificar o cotidiano da vida de artista. Não que não seja bonito — de fato é. Mas vivemos num mercado regido por likes, views e número de seguidores”, afirma.
A psicanálise, diz ele, o ajuda a não ficar à mercê do sistema. “Quando era mais jovem, tive convite para reality shows; já me chamaram para ser cantor gospel. Acredito muito na força do recado que tenho para passar. A psicanálise me ajuda como sujeito e profissionalmente.” A versatilidade, acrescenta, é também “mecanismo de sobrevivência”, sem abrir mão do que acredita artisticamente.
Vêm aí novos passos. Navas prepara o projeto infantil Tem Gato na Tuba. No passado, já visitou o universo de canções para crianças de Vinícius de Moraes e Chico Buarque; agora, acrescenta músicas de Braguinha — precursor do gênero no país, muitas vezes subestimado nesse papel.
Com as cantoras Patricia Marx, Vânia Bastos e Verônica Ferriani, estreou em São Paulo um tributo ao repertório de Gal Costa. Em paralelo, trabalha um show para revisitar o primeiro álbum solo de Renato Russo, The Stonewall Celebration Concert. E, no fim do ano, lança um espetáculo que reunirá obras de Cole Porter, Custódio Mesquita e Tom Jobim — será a primeira vez que cantará a obra do maestro.
Assista à entrevista de Carlos Navas a CartaCapital:
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