Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Marujos Pataxó lançam seu 2° disco de samba indígena com apelo pela demarcação de terras

Lideranças do projeto ressaltam a importância da tradição musical como integração do povo indígena no sul do Bahia

Marujos Pataxó lançam seu 2° disco de samba indígena com apelo pela demarcação de terras
Marujos Pataxó lançam seu 2° disco de samba indígena com apelo pela demarcação de terras
Foto: Divulgação
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Depois de A Força dos Encantados (2023), o projeto Marujos Pataxó lança neste sábado 19, Dia dos Povos Indígenas, o segundo álbum, intitulado Hoje É o Dia do Índio. O grupo, baseado na Aldeia Mãe da Terra Indígena Pataxó Barra Velha, no sul da Bahia, se caracteriza por ter uma base rítmica do samba.

Mônica Bello, diretora-geral do Marujos Pataxó, lembra que instrumentos musicais foram incorporados aos indígenas com a chegada dos portugueses e dos negros escravizados.

A partir dessa interação, não é difícil crer no desenvolvimento do samba indígena, que os Marujos Pataxó agora resgatam. “O samba indígena é uma riqueza do povo ancestral Pataxó e faz parte do nosso ritual sagrado’”, explica Twry, coordenadora de produção do projeto e sambadeira. “Vejo o grupo como uma fonte de união.”

Twry avalia que a tradição ganhou força após o chamado “Fogo de 51”. Em 1951, em meio à luta dos indígenas contra a invasão de terras e a repressão de forças policiais, houve mortes, prisões de indígenas, incêndios em aldeias e a dispersão do povo Pataxó, que vivia naquela região.

Ela conta que o samba Pataxó tem feito a conexão entre os pataxós e outros povos da região. “A cada ano que passa, temos mais visitantes.”

Hoje É o Dia do Índio, de 11 faixas, aborda temas como ancestralidade, natureza e tradições, com letras que misturam palavras em português e na língua indígena Patxohã. O samba indígena é executado com maracá, pandeiro, tamborim, cuíca, triângulo, agogô, reco-reco, tambor, zabumba, xequerê, cavaquinho e violão.

“Várias dessas músicas são ancestrais. São músicas muito sagradas”, ressalta a diretora do projeto. “Nas festas tradicionais do povo Pataxó, ainda acontece a entrega de ramo: o festeiro velho passa o ramo para o festeiro novo, para dar continuidade à tradição.”

O projeto envolve também oficinas semanais de música e samba indígena para cerca de 40 crianças da Aldeia Mãe, o que deu origem ao grupo Marujinhos Pataxó —  eles estão em processo de gravação de seu primeiro álbum.

O samba Pataxó acontece principalmente entre dezembro e fevereiro, devido aos festejos nas terras indígenas de Nossa Senhora da Conceição, Santos Reis, São Sebastião e São Brás.

A criação do Parque Nacional do Monte Pascoal, na terra indígena Pataxó, ainda é motivo de discórdia, devido às restrições impostas pela unidade de conservação, que dificulta as atividades de subsistência essenciais para os indígenas.

Além disso, a frequente invasão das terras indígenas e os questionamentos de áreas já ocupadas no território Pataxó criam um quadro de tensão permanente.

Com isso, Twry prefere nem comemorar o Dia dos Povos Indígenas. “Todo povo originário está de luto por causa de suas terras, que estão sendo ocupadas pelo agronegócio, por latifundiários e por grileiros.”

A capa do álbum Hoje É o Dia do Índio é obra do artista indígena Tukunã Pataxó e traz a matriarca do samba, Maria Coruja, pedindo paz e respeito pelas terras indígenas no Brasil. Sobrevivente do “Fogo de 51”, ela é compositora e uma importante ativista na luta pelos direitos indígenas.

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