Foi em 1973 que Luiz Melodia lançou seu primeiro álbum. O cantor e compositor ficou confinado ensaiando com os músicos por três meses, em uma casa em Jacarepaguá, providenciada pela então gravadora. De lá, só saíam para as gravações no estúdio em Botafogo, no Rio de Janeiro.
O resultado é um álbum de referência da música brasileira, o Pérola Negra. Em composições com letra e melodia do artista, o trabalho apresenta aparentes versos soltos, mas de resolução musical tocante e forte, um retrato do Brasil visto pelo morro com vasta fluência no asfalto.
É um disco eclético, de samba, blues, forró e da então MPB recém-criada, com referências ao Estácio, onde Melodia nasceu, no Rio. Além disso, a instrumentação tem outro patamar, algo que o Brasil veio a valorizar mais na década anterior com a Bossa Nova.
O disco abre com Estácio Eu e Você, um samba tocado de forma tradicionalíssima pelo Regional do Canhoto. Depois, Vale Quanto Pesa, de arranjos primorosos.
A clássica Estácio, Holly Estácio vem a seguir, na levada malemolente de Luiz Melodia, com a divisão rítmica incomum e marcante. Pra Aquieta, a quarta, o ritmo dos anos 1960 da Jovem Guarda, uma das influências do músico.
A letra difusa de Abundantemente Morte é levada em voz de Melodia e violão e guitarra de Perinho Albuquerque. Depois, a faixa-título com ares tropicalistas, Pérola Negra.
Magrelinha é a canção seguinte e bate “no coração do Brasil”, como diz um dos versos dessa canção de boa fluência musical no estilo Luiz Melodia. Farrapo Humano e Objeto H são estilosas. O Forró de Janeiro, acompanhado de Dominguinhos no acordeon, é um apoteótico fim desse emblemático disco.
Luiz Melodia deu início à carreira num álbum exitoso. Sua forma original de interpretar ganhou vida em Peróla Negra, perpetuando a seguir nesse jeito bem particular e brasileiro de cantar e fazer música. Em 2017, saiu de cena, deixando uma obra singular.
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