Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Maíra Freitas alude à feminilidade, à ancestralidade e ao racismo em seu 3° álbum

Filha de Martinho da Vila grava trabalho plural, com banda de nove mulheres. Ela canta, compõe, toca piano, produz e faz arranjos

Foto: Divulgação
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Nos dois discos anteriores, Maíra Freitas fez um trabalho que oscilou entre o samba, remetendo às suas origens, e o erudito, referindo-se aos seus densos estudos de piano.

Desta vez, ela lançou um trabalho plural, no qual maternidade, feminilidade, ancestralidade, racismo, sentimento e amor se apresentam, em uma levada pop-jazz com direito a solos musicais marcantes.

“Esse disco é muito focado na palavra. A maioria das músicas nasce de poemas”, conta. “Tem música sobre parir, sobre culpa, sobre ‘maternar’, ser uma mulher sensual no mundo, sobre a mulher preta vivendo nessa sociedade.”

Segundo ela, cada música tem um sentimento genuíno. “É um disco pop com músicas para cantar ao mesmo tempo em que você reflete. Tudo isso vestido de um instrumental. A gente tem grandes sessões de sopro, de improviso. Ele é de jazz no sentido amplo”, afirma.

Além de compor as músicas do álbum, que tem o nome de Ayé Òrum, Maíra Freitas fez os arranjos e a produção desse trabalho de 13 faixas inéditas boas de ouvir.

Em seu terceiro álbum, a cantora e compositora contou pela primeira vez com a banda que a acompanha, formada somente por mulheres, a Jazz das Minas, para mostrar um som potente em cada faixa.

“Há muito tempo que tinha vontade de fazer uma banda só com mulheres, o que é difícil. Fala-se muito ‘vamos valorizar a mulher na música’, mas quando você vai ver tem uma só, ou é a cantora. Pouco se fala da instrumentista”, diz.

Jazz das Minas é composto por nove mulheres, com Maíra na voz e no piano, além de Cris Ariel (guitarra e voz), Samara Líbano (violão 7 cordas), Paula Pardon (baixo), Monica Ávila (sax, flauta e voz), Sara Leite (trompete), Katia Preta (trombone e voz), Rapha Morret (percussão) e Flavia Belchior (bateria e voz).

Destaque do disco é a canção Ateando fogo, parceria de Maíra Freitas com o pernambucano Zé Manoel, que participa da gravação, assim como a rapper Lis MC.

“É uma música sobre a raiva de estar no mundo, ser essa mulher preta, que está ali aceitando tudo, mas tem uma hora em que a gente cansa, quer sair quebrando a coisa toda”, diz.

Okê Arô é uma grande homenagem a Oxóssi, como ela própria define. A música, quase toda instrumental, foi composta pela baiana Josyara com seu violão percussivo típico do Recôncavo. “Ela conseguiu traduzir em notas muito essa sensação da mata, a preta com uma flecha”, diz Maíra.

Já a faixa Tambor Atento saiu de um refrão composto por Maíra e foi complementada a partir de seguidores nas redes sociais durante a pandemia.

“A galera saiu mandando letras e foi um processo muito engrandecedor. Pessoas que não trabalham com música se abrindo para compor. Foi bonito ver pessoas comuns me mandando versos.”

O álbum conta ainda com a participação de Marina Iris, Mart’nalia – irmã de Maíra, também filha de Martinho da Vila -, Anastácia, da violoncelista Flávia Chagas e das poetisas Elisa Lucinda, Gênesis e Carol Dall Farra.

Assista à entrevista de Maíra Freitas a CartaCapital na íntegra:

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