Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Livro destaca os tensos discos gravados por Caetano Veloso entre 1969 e 1972
O período foi breve, mas pareceu uma eternidade para o artista e influenciou sua produção


Não foi a fase mais criativa de Caetano Veloso, mas o período entre o fim do Tropicalismo e o seu retorno ao Brasil, depois de um ano e meio exilado em Londres, ainda desperta muita curiosidade em pesquisadores, pelo modo como o baiano lidou com aquele momento difícil.
Embora breve, aquele tempo pareceu para o cantor e compositor uma eternidade e influenciou sua produção. O livro It’s a Long Way – O Exílio em Caetano Veloso (Garota FM Books, 224 páginas), de Márcia Fráguas, analisa os três álbuns produzidos entre 1969 e 1972, um deles apresentado pouco antes de ele de sair forçado do País. Os trabalhos são marcados por tensões e distensões.
Caetano e Gilberto Gil foram presos em São Paulo em 27 de dezembro de 1968 e levados para o Rio de Janeiro. Cinquenta e quatro dias depois, foram confinados em Salvador, antes de irem para o exílio.
Em abril e maio de 1969, Caetano Veloso gravou um álbum com seu nome e vários estilos musicais, já com um tom melancólico do adverso tempo em que vivia e sob influência do Tropicalismo — ainda que o movimento, para ele, houvesse dispersado, porque a ditadura já não permitia a colaboração entre os artistas envolvidos.
O disco é composto por Irene, referência à irmã caçula do baiano e feita na prisão; Marinheiro Só, o samba de roda marco do gênero; a animada Atrás do Trio Elétrico; Carolina, a obra da dor de uma mulher de Chico Buarque; Não Identificado, música de Caetano que se tornou um sucesso na voz de Gal; e outras canções introspectivas.
Em 27 de julho de 1969, Caetano e Gil partiram para o exílio. O álbum Caetano Veloso (1971), produzido e lançado em Londres, quase todo em inglês, é o mais melancólico de toda a sua discografia. O livro de Márcia Fráguas conta sobre cada faixa e suas influências.
O repertório vai de um artista “perdido” na canção London, London à música Maria Bethânia, na qual pede notícias do Brasil à irmã, além da clássica Asa Branca (Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira).
Por fim, há o álbum Transa (1972), gravado em Londres, com banda de músicos brasileira e direção musical de Jards Macalé. É da faixa It’s a Long Way que saiu o título do livro. Para a autora, a canção “se configura como um balanço do caminho musical e pessoal percorrido até aquele momento” por Caetano Veloso.
De novo, o livro destrincha canção por canção do paradigmático Transa, com referências fortes do Brasil, já com o seu autor talvez prevendo o retorno ao País, o que ocorreria em 11 de janeiro de 1972. À época, o álbum foi lançado só no Brasil.
A análise da poética de Caetano Veloso por Márcia Fráguas, formada em História pela USP e com mestrado em Literatura Brasileira, reforça o que o baiano costuma dizer: “As minhas letras são autobiográficas”. Portanto, está na obra It’s a Long Way parte importante da biografia do artista e uma das mais intrigantes.
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