Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Livro conta de forma inédita a criação dos subgêneros e estilos do samba

Obra do pesquisador e músico Luís Filipe de Lima é uma aula sobre como a gênese musical brasileira recebeu influências ao longo da história

Livro conta de forma inédita a criação dos subgêneros e estilos do samba
Livro conta de forma inédita a criação dos subgêneros e estilos do samba
Foto: Acervo MIS/Reprodução da obra
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Em vez de narrar a história do samba somente na sua face tradicional, o pesquisador, violonista, arranjador e produtor Luís Filipe de Lima relatou as influências recebidas pelo gênero ao longo do tempo, definindo subgêneros e estilos, sem removê-lo da condição de gênese musical brasileira.

O livro Para Ouvir o Samba: Um Século de Sons e Ideias (Funarte; 320 pag) dá uma boa ideia das ramificações geradas pelo samba sem academicismo – o autor é doutor em comunicação e cultura pela UFRJ -, pois foi escrito de forma fundamentada – inclusive com teoria musical – e respeitando as vertentes criadas. Um trabalho original e rico na forma em que foi apresentado.

A obra parte do surgimento do samba urbano no Rio de Janeiro e seu desenvolvimento, variáveis e modernizações. Das origens ao samba maxixado, o samba do Estácio, o samba-choro, partido-alto, samba de breque, sincopado, de gafieira, exaltação, terreiro (depois de quadra), samba-enredo, samba carnavalesco, samba-coco, samba-bossa-MPB, sambalanço, samba-rock, samba-jazz, samba-soul, samba-funk, sambão-joia, pagode e pagode romântico.

De todos esses gêneros e estilos, chama atenção no livro o papel do samba-choro, música instrumental tipicamente brasileira, mas que no início do século passado deu a formação clássica até hoje do acompanhamento do samba, com violão, cavaco, bandolim, pandeiro e sopro.

A influência do choro em vários subgêneros do samba e na música brasileira é magistral – graças à quantidade de instrumentistas virtuosos que o Brasil sempre teve nesse segmento musical. Luís Filipe de Lima fundamenta na obra como músicos negros e mestiços levam o plano musical formal abrasileirado existente para dentro da cultura tradicional afro-brasileira, dando-lhe um caráter popular, vigoroso e pujante.

O partido-alto, o símbolo da conexão da origem do samba a partir do Recôncavo Baiano até o Rio, é um gênero vivo até hoje e tratado a altura que se deve no livro. Tem ainda o relato do pagode surgido no Cacique de Ramos nos anos 1980, “o último grande sopro criativo — até agora — a sacudir com vigor a árvore do samba urbano carioca”.

Cada capítulo traz algumas sugestões de registros fonográficos relacionadas à linguagem do samba abordada naquele trecho do livro. Uma compilação nada fácil de fazer – e de quem entende muito de samba.

Aliás, Luís Felipe de Lima traz para a narrativa o conhecimento fundamental das suas andanças pelas rodas, entre músicos e palcos. O autor é um excelente violinista. Salve essa boa obra sobre a nossa gênese cultural.

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