Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Livro analisa a influência dos Racionais e faz pensar o rap nos dias de hoje

O gênero se tornou menos críticos após a primeira eleição de Lula, aponta o sociólogo Deivison Faustino

Apoie Siga-nos no

Na apresentação de Racionais MC’s entre o Gatilho e a Tempestade (Editora Perspectiva), o sociólogo Deivison Faustino aponta: a institucionalização do rap se fortaleceu após a eleição de Lula de 2002.

Ele explica: o rap e outros movimentos das periferias se beneficiaram das políticas públicas da época com a luta diária do povo pobre. Essa combinação, entretanto, enfraqueceu a base de mobilização desses movimentos, criando um vazio.

Este vazio, completa, abriu espaço para outras ideologias e forças políticas – o que foi fundamental para a eleição do governo Bolsonaro, apesar do rap ter contribuído significativamente para formar novas lideranças negras críticas ao sistema e com forte conexão com a periferia.

Outro ensaio do livro, de Bruno de Carvalho Rocha, fala de como a cultura visual religiosa se estabeleceu nas periferias do país e, consequentemente, no rap.

Temas políticos e sociais, aliados a uma estética nada convencional, marcaram os primeiros anos do Racionais.

Santos católicos, rosários, versos bíblicos e orixás permeiam o tecido social da periferia e tornaram-se elementos do gênero. Embora a cultura visual tenha sido imitada por camadas sociais mais privilegiadas, ela permanece territorial e possui gírias próprias na periferia.

O contexto social das letras dos Racionais – muitas vezes visto pelo branco letrado como marginalidade, principalmente na sua primeira fase  – na verdade, deve ser observado de forma inversa: representa vozes marginalizadas. 

Acauam Oliveira, pesquisador com profundo conhecimento sobre os Racionais, comenta que o grupo abriu caminho para novas vozes, como Baco Exu do Blues, Djonga, Emicida e Criolo. Este último lançou Nó na Orelha (2011), integrando explicitamente o rap com outros gêneros.

É preciso esperar para ver como os Racionais navegarão nesse novo cenário – seu último álbum foi lançado em 2015, antes de o streaming se tornar predominante na receita da indústria fonográfica. O grupo promete lançar um novo álbum em breve, voltando ao tema da realidade periférica sem reservas, como em sua fase inicial.

Hoje, o rap tornou-se mais empreendedor e menos engajado com questões sociais e políticas – com o gênero trap dominando o cenário musical. Embora a expansão traga transformação, também torna o gênero mais ambíguo como a voz dos desprivilegiados.

‘Racionais MC’s entre o Gatilho e a Tempestade’ serve de ponto de partida para o que vem pela frente.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo