A cantora e compositora Kaê Guajajara já lançou quatro EPs, o mais recente deles, Kwarahy Tazyr, que quer dizer “Filha do Sol” em zeeg’ete (língua guajajara), também saiu no formato visual pelo selo indígena Azuruhu.
“É curioso observar toda a trajetória dos povos indígenas e o que falaram sobre nós. E o que falaram sobre nós não é a nossa realidade”, diz a artista indígena a CartaCapital. “Hoje, buscamos visibilidade para falar de nossa existência”.
A música na vida de Kaê Guajajara surgiu da necessidade de denunciar. “Ela dá oportunidade de o outro ter empatia e aprender”, ressalta. “Ninguém sabe como é a vivência, o que está acontecendo. Mas a música faz entender”.
A cantora indígena, que nasceu em uma aldeia no Maranhão, mudou ainda criança com os pais para o complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. Ela conta que onde vivia não era um território indígena demarcado, representando uma parte de seu povo que não fez o que ela chama de “conciliação com o colonizador”.
“A minha família não quis se articular com nada. Então, automaticamente, foram invadindo aquelas terras”, recorda. “Isso culminou com a violência, não só contra a natureza, mas dos corpos das mulheres que estavam resistindo”.
Na conversa, Kaê faz um paralelo entre a aldeia onde nasceu e a comunidade no Rio. “Muitas famílias saíram, migraram para as favelas com a intenção de se proteger e não sabiam que estavam indo para outro território não demarcado que está continuamente sendo invadido” .
A indígena, que também lançou o livro O que Você Precisa Saber Sobre os Povos Originários e Como Ajudar na Luta Antirracista, revela ainda que a mudança para o Rio de Janeiro deixou suas dores. “Foi bem dolorosa, cercada de violência. Na favela foi onde tomei coragem para escrever e denunciar”.
“Nós, artistas indígenas, temos muito o que falar sobre o que acontece nesse território (indígena) e como os originários estão vivendo”, acrescenta. “Fala-se da importância da música brasileira, mas nunca se inclui a música indígena”.
Assista a entrevista:
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