Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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João Suplicy une em disco samba e blues, frutos da diáspora

O cantor e compositor lança trabalho em que promove a união dos gêneros com músicas autorais e releituras

Foto: Reprodução
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Na música Lágrimas de um Blues, uma das primeiras lançadas dentro do projeto Samblues de João Suplicy, Leci Brandão faz uma introdução na qual mostra simbiose do blues com o samba.

Versa ela: “Nos Estados Unidos, os negros escravizados foram proibidos de batucar por mais de um século. Tiveram que aprender outras formas de expressão artística, muitas vezes usando apenas a voz, fosse nas igrejas ou nas plantações de algodão. O que veio depois a desencadear no blues. Já no Brasil, embora a batucada fosse também perseguida, nunca deixou de ser praticada, o que veio a gerar o samba”.

João Suplicy ressalta que ambos os gêneros musicais são oriundos da diáspora africana. “Uma coisa que me intrigou é por que, tendo essa origem em comum – mesmo a África sendo um continente grande -, a música seria tão diferente.”

Para o cantor e compositor, os gêneros são distintos em seu caráter musical, rítmico e melódico.

“Vim a descobrir que nos Estados Unidos, em 1739, teve uma rebelião na Carolina do Sul, que foi a primeira grande revolta contra a escravidão. Por causa disso, a Carolina do Sul estabeleceu uma série de novas regras rígidas, que se espalharam pelos Estados Unidos”, conta. “Entre as regras, estava a proibição de se batucar, que tinha função artística e de comunicação entre os negros. Isso perdurou até a Guerra Civil (1861-1865), sem poder batucar. No Brasil, a batucada era perseguida, mas não com tanta rigidez – sempre existiu aqui e foi importante para o samba.”

A própria música Lágrima de um Blues conta um pouco dessa história. A canção faz parte do primeiro de três EPs que estão sendo apresentados pelo projeto Samblues, que vai desaguar em um álbum a ser lançado no segundo semestre.

“O samba e o blues estão presentes em meu tocar”, afirma o músico. Suplicy tem uma forma peculiar de tocar, com violão distorcido, o que compõe bem com o tom bluseiro que imprime ao novo trabalho.

Ainda sobre a relação entre os ritmos, o músico vê no samba capacidade maior do que no blues de transformar a tristeza, algo comum nas composições de ambos.

“Vejo maior capacidade do samba de transformar essa dor em alegria. Deve-se muito à questão rítmica. O blues exorciza a tristeza, põe para fora, mas não consegue transformar em alegria como o samba”, afirma.

O Samblues EP vol. 1 tem seis faixas, sendo cinco de João Suplicy (duas em parceria, uma com Mombaça e outra com Victor da Candelária) e a releitura de As Rosas Não Falam (Cartola).

No EP vol. 2, novas músicas de João Suplicy (sendo uma em parceria com Alice Ruiz a ser lançada em abril) e releituras de Água de Beber (Tom Jobim e Vinícius de Morais) e Disritmia (Martinho da Vila). O EP vol. 3 sairá no meio do ano com quatro faixas.

25 anos de carreira

João Suplicy está completando 25 anos de carreira. Muita coisa mudou, a começar pelo seu novo disco, que lança por meio de três EPs, que se transformarão em álbum. Quando iniciou carreira, o que existia era somente lançamento de álbum, e em CD.

“Vejo muito pontos positivos no mercado com a internet. Democratizou muito a música. Antes, você conhecia um número pequeno de artistas que estavam nos canais da mídia”, afirma.

“Mas com a internet tem uma segmentação muito maior. Existem artistas e bandas que possuem um público bem considerável em um certo nicho e que são desconhecidos para outras pessoas. Mas ele vive daquele público que o consome. Isso era inviável antes.”

Ele reconhece, porém, que o dinheiro já vem dando as cartas no meio digital. “Com dinheiro, se ocupa os espaços, as publicidades, a campanha digital. Acaba sendo inevitável. Mas ainda vejo nitidamente a democratização da arte, que a internet trouxe.”

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